Do MidiaNews/Cuiabá/MT
O marechal Eurico Gaspar Dutra foi injustiçado pela história oficial
Toda cidade é um centro produtor, só que a produção de uma cidade vai muito além da produção econômica. Seu principal produto é a sua gente e a qualidade de seu povo deveria ser a melhor medida de seu sucesso. Por isso as cidades lembram seus vultos como modelos para reproduzi-los em todas as áreas. Nos meus tempos de grupo escolar, estudávamos suas vidas para aprender com eles e respeitá-los, e através deles, respeitar nossa gente, a boa cepa de onde surgiram.
No último dia 18 devíamos ter reverenciado Dutra, o cuiabaninho vendedor de bolos do Mundéu que chegou a presidente da República. Filho de viúva de veterano da Guerra do Paraguai, pobre, sem nenhuma ajuda saiu daqui lavando pratos nas lanchas e trens que o levaram a um colégio militar, e de lá chegou à Presidência da República e à História do país. Foi e venceu, mantendo forte influência na política brasileira até o fim da vida. Um orgulho nacional, cujo aniversário passou despercebido em sua própria terra. Nem em artigo meu como faço anualmente. Optei em cobrar as obras do Aeroporto Marechal Rondon. Mais de três anos – 3 anos! – após Cuiabá ter sido escolhida como uma das sedes da Copa, até hoje a Infraero não aprontou sequer o projeto para a ampliação do aeroporto! Até parece que a Infraero não quer Cuiabá sediando a Copa do Pantanal.
Mas o aniversário de Dutra não pode passar em branco. Injustiçado pela história oficial, sua vida pública inicia como Ministro da Guerra, onde ficou por 9 anos – o ministro mais duradouro – onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazifacistas, forçou a queda do ditador Getúlio. E de ministro foi a presidente pelo voto do povo, tendo sido um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. De imediato convocou a Constituinte organizando a volta do país à democracia.
Eleito para um mandato de seis anos curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que estabelecia, mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país. Aos que temiam a volta de Getúlio e queriam que ficasse mais um ano, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos do que manda o livrinho”. Virou “o homem do livrinho”, da Constituição mais democrática que o Brasil já teve, assinada por ele.
Dutra introduziu o planejamento no Brasil com o Plano Salt e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a Chesf. É dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. Criou ainda os sistemas Sesi, Sesc e Senai, e durante seu governo foi inaugurada a TV no Brasil. Ficou com a culpa do fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ, e por isso e por ter fechado os cassinos desagradou à esquerda, matriz dos historiadores, jornalistas e artistas da época, e foi jogado ao ostracismo.
Fato importante para Cuiabá como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, foi o cuiabano Dutra quem trouxe para o Brasil a primeira Copa do Mundo, em 1950. Queria mostrar ao mundo um Brasil novo, com grandes cidades, que deixava de ser rural e se industrializava. Construiu o Maracanã, o maior do mundo, um dos motivos da paixão nacional pelo futebol.
Uma das promessas iniciais da Copa do Pantanal foi a criação do Memorial Dutra, uma justa e oportuna homenagem a um presidente tão importante para todos os brasileiros em sua terra natal. Um projeto que não pode ser esquecido pelos cuiabanos.
JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é professor universitário em Cuiabá.
joseantoniols2@gmail.com