Se vivo fosse, meu pai estaria completando 100 anos em 30 de março de 2012. Basileu parecia o homem dos sete instrumentos: foi jornalista, poeta, escritor, ativista político, membro da Associação Goiana de Imprensa, além de ferreiro, serralheiro, marceneiro, tendo conseguido dar um salto de qualidade no padrão de vida de nossa família quando partiu para o ramo imobiliário logo após o início da construção de Brasília.
Basileu Pires Leal nasceu em Santa Luzia – hoje Luziânia –, cidade goiana que fica a 60 km da capital federal. Aos 18 anos já morava em Corumbá de Goiás, onde conheceu Juvenal Veiga, que editava o jornal Pau de Goiaba e com quem deu os primeiros passos em sua militância política. Com a Revolução de 30, atuou junto com Juvenal combatendo as forças integralistas, tendo sido, por isto, perseguido politicamente. Em 1931 alistou-se voluntariamente no Exército e foi chamado para servir no 3º Batalhão do 5º Regimento de Infantaria, sediado em Campinas, SP.
Quando eclodiu a chamada “Revolução Constitucionalista” de 1932, foi convocado para lutar no Túnel da Serra da Mantiqueira. Com a vitória das forças federais comandada por Getúlio Vargas, regressou a Goiás. Em 1933 já morava em Anápolis, GO, e, juntamente com Juvenal Veiga passou a colaborar com o jornal A Luta – de propriedade de A. G. Pinto –, publicando crônicas, poemas e artigos políticos. Foi aí que começou sua trajetória de jornalista, tendo, inclusive, participado da direção do jornal Correio Goiano.
Na década de 1930 Basileu participou da fundação do Partido Comunista (PCB) em Goiás, juntamente com outros líderes de esquerda. O jornal A Luta teve um papel significativo na divulgação e consolidação do partido na região de Anápolis. Tanto que em 1934, durante a campanha eleitoral, todos os responsáveis pelo jornal sofreram dura repressão policial. O papel de Basileu, naqueles dias de efervescência política, foi coordenar e ajudar na mobilização de pessoas para as passeatas, comícios e reuniões políticas.
Na década de 1940 fundou e dirigiu o jornal de esquerda o Boletim Proletário. Foi também um dos fundadores da Frente Popular, de esquerda, onde mantinha a coluna “Estilingue”. Juntamente com seu companheiro de partido, Clóvis Bueno Monteiro, fundou e dirigiu o jornal A Folha da Roça.
Tauny Mendes, apud Lygia Portenha Borges Ferreira, ressalta que na história da formação do Partido Comunista em Goiás “a figura de Basileu Pires Leal foi se destacando e assumindo significado especial não apenas por sua participação enquanto militante e articulista ligado ao PCB, mas também pelo seu empenho em resguardar do esquecimento a memória de uma fase pouco conhecida do movimento comunista em Goiás”.
Na década de 1960, quando eu estudava em Moscou, meu pai realizou seu sonho de conhecer a ex-União Soviética. Durante 15 dias ele visitou, além da capital da URSS, várias outras cidades importantes do país.
Celebramos em março último – os filhos, genros, noras e netos –o centenário de nascimento do “velho Basileu” – pai, amigo, companheiro e revolucionário que sempre sonhou com um Brasil livre, soberano, justo e solidário e que me iniciou – e aos meus irmãos – na arte de uma militância política sintonizada com os interesses maiores da população.
Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e molecular e vice- prefeito de S. Carlos. Email: depl@df.ufscar.br