Dez “famosos” criaram factoide nacional: censurar biografia. Já fala-se pouco de espionagem. Da escapulida da presidente em moto. A Veja não repicou capa do casamento de Daniela Mercury. Puríssima em vestido branco. Declarando amor eterno à sua Malu mulher. Rosemary, a terceira mulher mais influente do Brasil, não é mais manchete. Os Mensaleiros saíram de cena. E de pena.
Passeatas; greves; professores; a reposição do rio S. Francisco; as obra$ da Copa do Mundo: são “notícias velhas”. Uma patota em revigorado Clube do Bolinha ocupa espaço nobre em jornais. Foi capa da Veja. E como nos velhos tempos, aos quais diziam combater, querem censurar biografias. No Brasil da década perdida isso é noticia “nova”.
Seria injusto. Covardia. Ver os cães ladrarem enquanto a caravana da nova Inquisição made in Brazil passa cantando, tocando, dançando. Como se censura, patrulhamento ideológico, perseguição, calúnia, não tivessem acontecido e mexido comigo por toda a minha vida. Ou simplesmente fazer como ensinou a ministra da Cultura: Senta e Relaxa.
75% dos brasileiros jamais pisaram em uma biblioteca
Para que discutir livro e biografia quando o dono da Casa Grande, da Senzala, o Exemplo Maior, o Chefe da Nação, diz, com orgulho: Nunca li um livro. “Não preciso de diploma universitário pra governar o Brasil”.
“O índice de analfabetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%”. De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14 pontos – de 76%, em 2001, para 62%, em 2011. (Instituto Paulo Montenegro vinculado ao Ibope).
Há mais dados a provar que netos, filhos, afilhados, do totalitarismo da Esquerda e Direita, no outono da vida, buscam banana em bananeira que não dá cacho. È desgraça nacional 90% da população não dar a mínima para essa discussão velha, rançosa. E atualíssima. Importantíssima. Salto os “embargos infringentes” na censura. O legalês. A processualística ao infinito. Neste “julgamento” da liberdade de expressão. Vida pública e privada. Biografia autorizada. E penso contribuir com duas histórias:
1. Boris Pasternak, autor do livro Doutor Jivago. (Meu filme de cabeceira). 2. E o Paparazzo Ron Galella perseguindo e infernizando Jaqueline Keneddy. Fotografando de minha janela a querida e sofrida primeira dama dos Estados Unidos. Moscou e Nova York. Censura e liberdade.
Neste espaço eu não invento. Não aumento. Dou depoimento. Não apenas de testemunha ocular. Mas, de histórias vividas. Sentidas. Doces e amargas.
A diplomata.
Não havia censura explícita. Passeávamos, namorávamos, por Moscou. Nas férias, viajávamos ao exterior. Muitos formaram família brasileiro-russa. O confinamento era de vida universitária. O inverno, idioma, os estudos, dificultavam maior conhecimento da realidade soviética. Eu tive sorte. Com uma mulher e uma doença. Com amor e dor. Saí do “gueto”.
Não foi fácil levar o cocar a Moscou ganho de cacique em Jarudore, MT. Plumas lindas. Na mala quebraria as penas. Viajei com ele na cabeça no avião do Rio/Paris/Moscou. E todo mundo olhando pra mim. (Imagem: do primeiro carnaval na URSS. Embrião dos famosos carnavais no Waldorf Astoria).
No primeiro carnaval brasileiro em Moscou a diplomata gostou de mim. Até hoje desconfio se foi de mim ou do cocar. As plumas naturais brilhavam o vermelho, azul, amarelo. Lindo contraste com o branco da neve. O cacique havia previsto: “cocar vai dar sorte pra bacuri grande”. O ornamento legítimo a hipnotizou. E entrei na “viagem” dela por dois anos. Mudando a minha vida para sempre. Conheci pessoas e lugares que o universitário jamais conheceria. Por exemplo: ir à igreja não era proibido. Mas, para engajado na revolução proletária, para membro do Partido, era mal visto. Mas, ela, diplomata, foi fazer uma doação. E lá estava eu frente a frente com o Patriarca. O Papa da Igreja Ortodoxa da Grande Rússia.
Com ela descobri Boris Pasternak. Vimos o filme Doutor Jivago em Estocolmo. Um filme de amor durante a revolução. Mas, o livro foi censurado na URSS. Pasternak banido no ostracismo. Já contei como anos depois na esquina da Quinta Avenida com a “minha Rua” dei um dobri dien Lara! Ela virou-se. A fisguei na surpresa. Ela riu. Fazia frio. Julie Christie, a minha adorável Lara, deslumbrante com um gorro branco e capa londrina. Convidei. Ela aceitou. Tomamos cafezinho na Rua 46.
Aula de erotismo em Yasnaya Polyana
A fazenda de Leon Tolstói estava na agenda das excursões culturais que a universidade promovia. Muitos lá foram. Mas, eu voltei com liberdade e facilidades diplomáticas. Três dias “sentindo, vendo, ouvindo” Ana Karenina, Guerra e Paz. Nos lugares onde esses dois clássicos da humanidade foram escritos.
1. Tolstói em Yasnaia Polyana. 2. O filme. 3. Maiakovski, Pasternak, com mais censurados.
No filme The Last Station, sobre os últimos dias de Tolstói, vi o coreto onde numa noite branca transei com a diplomata. A minha professora de erotismo sentindo-se “Anna Karenina” vestia meia- liga, espartilho, calcinha rendada. Acessórios sexuais que eu nunca tinha visto ou cheirado. Dela, o primeiro livro do Marques de Sade. Sexo oral com tremor, arrepios. Não sabia que uma mulher ao gozar pode urinar. O primeiro ménage à trois. Professora de etiqueta: por que dois garfos, duas facas, quatro copos? E de boas maneiras ao vestir, comer, falar. Ela ensinou-me a ser menos grosseiro. E mais “educado”.
Com ela soube dos poetas, escritores, pintores, sufocados, proibidos de criar. Ou escrever, compor, pintar, só aquilo que o Estado queria. O Partido ordenava. O Chefe benzia. Esmagados. Sem liberdade de expressão muitos se suicidaram (Essênin, Maiakovski, Ossip, Anna Akmatova, Kurlov…). Fomos ao enterro de Pasternak. Cercado de mistério e de pessoas com medo dos fotógrafos da KGB.
“Quando as testemunhas silenciam, nascem as lendas”.
1. Estudantes brasileiros na calçada da embaixada. 2. Ehrenburg. 3. Seu livro mais famoso.
A embaixada do Brasil na Rua Guertzena. Em frente, a Casa do Escritor. Seu presidente Ilya Ehrenburg. Prêmio Stálin da Paz. Autor de A Epopéia Russa, O Degelo. Ficou na marca do pênalti por críticas à divinização de Stálin. Recuperado por Khruschev. Eu ia à biblioteca. Conversava com Ehrenburg.
O embaixador Henrique Rodrigues Valle, sempre generoso, mato-grossense, como eu, aceitou as minhas explicações, e fez o convite. Foi assim que o consagrado escritor almoçou conosco em conversa descontraída. Falou da divinização de Stálin e da importância das biografias. Imagem: Uma partida de sinuca com o embaixador.
“O biografado conta a história de seu tempo. E sem testemunha do momento, do tempo, os mitos florescem, passam a ser perigosos e destrutivos”. Escritores, poetas, não frequentavam embaixadas sem permissão do Partido. Ilya Ehrenburg vivia drama pessoal, angustiante. Os pro Stálin o condenavam pelas criticas ao Divino. Os contra Stalin o criticavam por ter assumido a presidência da Casa do Escritor.
Nas belas voltas que o mundo dá ao meu redor anos depois eis que a minha primeira girl friend americana foi Paulette Ehrenburg. Da família de Ylya Ehrenburg que não era russo. Mas, ucraniano. O SNI não autorizou a renovação do meu contrato com a Delegacia do Tesouro Brasileiro. Primeiro e único emprego em Nova York. Sem lenço e sem documento. Como cantou o IV Novo Censor da República Federativa do Brasil. Eu fui à luta. Paulette introduziu-me ao American way of life. Vivíamos na Rua 10 East Village. No miolo hippie. Psicodélico. Ela foi o degelo para os meus “quinze minutos de fama” em Nova York.
A tuberculose.
Fome crônica. Magricelo. Fumante. Cáries tampadas com algodão. Líder estudantil “profissional” querendo terminar uma faculdade. Cheguei a Moscou pele e osso dentro de terno da Ducal (novidade poliéster). Na faculdade preparatória, fonética e gramática russa. Tudo beleza. Mas, o impulso ideológico falou mais alto. Ao invés de descansar. Voltei ao Brasil com malas de souvenires, propaganda, cartazes. Sentindo-me o Emissário, Apóstolo. Fui aclamado. Falei a multidões. Palestras. Entrevistas.
Em Cuiabá, homenageado pela inteligentzia da terra de Rondon. Almocei com o governador. Fui para a boêmia com o amigo e poeta Silva Freire. Sem descanso, voltei a Moscou carne e osso. No check up, antes das aulas, a camarada doutora detectou os nódulos (caroços) no pescoço.
Imediatamente, biópsia no hospital de Oncologia ao lado da chácara de Stálin. Não era câncer. Tuberculose linfática. Ou seja, má alimentação. Noites mal dormidas. Seis meses no Pavilhão de Tuberculosos em Moscou. Doses cavalares de antibiótico. Miopía. Queda de cabelo. Cobaia de Broncoscopia recém-introduzida na Rússia. Quatros meses em sanatório às margens do rio Volga. Onde devorei biografias, clássicos da literatura. Fiz amizade com kristiani (camponeses).
No PT conheci a Ruskáia duchá.
A alma russa. Tranquila. Rebelde. Alegre. Triste.
No PT: pavilhão de tuberculosos, estrangeiro, eu podia sair com frequência. Trazia cigarro e vodka (proibidos). Da namorada cubana ganhava kalbasá (mortadela). Chocolate. Frutas. Dividia. Passei a líder do andar. A turma da pesada dava cobertura para as minhas fornicações com internas do Pavilhão Feminino. Pouca penetração. Muitas punhetas ideologicamente intensas, caudalosas. Dessa experiência única. Quantos artigos! Quantas biografias! Tentei, mas não consegui manter um diário.
1.Ter conhecido Ríjiki (centro), vivido com os ” discriminados, censurados”, fez-me conhecer um pouco da Rússkaia duchá. 2. No bosque do sanatório. 3. A enfermeira Tatiana.
Magnifica experiência de vida ter conhecido Rijiki (Sarará). Sardas no rosto. Cabelo vermelho. Dois metros de altura. Tuberculose galopante contraída em prisão da Sibéria. Engenheiro. Ele não se curvara aos Comissários da construção de pontes. Fez críticas abertas. Taxado de anti-Partido. Cinco anos preso. Mesmo na amargura e tuberculose terminal sua alma russa vibrava de paixão. Rijiki declamava Puskin, Yessenin, Maiakovski. Tocava bandolim.
Saudades de Irina. Bábuska maiá daragáia.
A zeladora Irina, minha querida bábuska. Sempre com um pouco mais de sopa. Ovo cozido. Chá. Ela sabia dos amasso com Natasha dentro do almoxarifado. Fingia não ver. A solidariedade na dificuldade, no sofrimento, é uma marca do povo russo. Vem das guerras. Do Obscurantismo. Totalitarismo. Da Censura.
Das portas abertas pela diplomacia. Das portas fechadas pela tuberculose. Vivi o que nenhum estudante, convidado especial do governo ou do partido, viveu na URSS. Sem subversão. Sem ofender meu anfitrião. O bondoso povo russo. Saí da regra. Vivi a exceção. Estava tudo ali. E não vi. Não captei.
A teoria marxista fossilizada.
Marx ensinou que haviam compreendido o mundo. Era hora de mudar o mundo. E mudança exige movimento, avanço, melhora constante. Porém, Marx não previu pedra no caminho. Aliás, várias pedras rochosas. O culto à personalidade. A trituração de sonhos. O esmagamento de iniciativas. A castração da criatividade. A burocracia. Corrupção. Fossilizaram a teoria econômica marxista. E por cima do Estado-babá, inchado, policialesco, o Poderoso Chefão, o Mito, o Divino.
Por essas e outras sinto vontade de vomitar quando a ministra da Cultura do meu país proclama que Lula é Deus. E, ela não está brincando! Ou está tirando sarro do Chefe, curtindo com a cara do Cara? Já ouvi que Hugo Chávez está fazendo “milagres” curando gente na Venezuela! Se Marta Suplicy, da elite paulista, títulos universitários, responsável pela Cultura do Brasil, pensa e diz que Lula é Deus, imagina o que não está sendo gerado abaixo dela. Assim nasceram a Inquisição, Taleban, Al Qaeda, Gulak, Partido Único, Rainha Mãe dos Pobres, Rei Pai dos Ricos, Ditadores, Sanguinários…
O verde faz parte da nossa bandeira.
Censura e patrulhamento ideológico são carne e unha de regime totalitário. Seja em nome de Jesus. Alá. Stálin. Fidel. Hugo Chávez. Lula. Censura é como coceira. É só começar. Uma exceção e descambamos para o Obscurantismo. Inquisição. Atraso. A Censura destruiu sonhos comunistas. E mesmo assim, com todos os exemplos de ontem e de hoje, no Brasil, os novos cavaleiros do Apocalipse Cultural querem censura em biografias, livros, filmes. Eles não sabiam o que acontecia na catedral de santos ideológicos? Ou fingiam não saber para navegar nas ondas do momento. Ficar famoso. Faturar?
A lei dá garantias a biógrafo e biografado. Calunia e difamação são delitos. È fazer cumprir a lei. Todavia, assunto de vital importância, a polêmica das biografias, está engavetada no Supremo Tribunal Federal. Previsão de decisão: 2014? É preciso elevar o nível político da população. E para isso precisamos da TV, a principal educadora do país. Das Rádios, Blogs. Dos compositores, cantores (as), atores, atrizes, de todos os que ensinam e formam opinião. Precisamos Aprender. Ver. Enxergar. Para não atravessar a linha entre o público e o privado. Entre censura e liberdade de expressão. Sem misturar liberdade com libertinagem, depredação, esculhambação, anarquia.
A turma do censurar biografia revela seu caráter.
Aos poucos, cada um saindo do “armário” ideológico e político. Revelando surpresas ao grande público. Procure Saber quem foi exilado pelo governo ou viveu auto-exílio idílico-etílico-musical? Era IN cabelo ao vento, sandália hippie, barba, baseado, canções e versos de protesto, para credenciar “líderes” de geração. Da esquerda. Mesmo que da esquerda festiva. Ou do esquerdismo, “doença infantil do comunismo”. O manto sagrado do “é proibido proibir” valeu sucesso, riqueza, fama.
Muita gente continua gigolando protestos e ações que não fizeram. Luta que não travaram. Muitos atravessaram a linha da revolução para a corrupção com a maior tranquilidade. Na maior face of wood (no inglês do camarada Jair Santana). A delinquência ideológica está atuante e faturando. Que tal uma Comissão da Inverdade para sabermos se esses velhos famosos querem ser lembrados pelo que cantaram, escreveram, ou pelo que fazem agora?
Tem hora que penso em arrear meu Rocinante, acordar Sancho, e começar campanha para não comprarem CD, DVD, LIVRO, SONG BOOK, INGRESSOS DE SHOWS, FILMES, CAMISETAS, BRINDES,
NADA, PRODUZIDO PELOS QUE QUEREM CENSURAR BIOGRAFIAS, LIVROS…
Liberdade de expressão é aroeira. É pilar central do Estado de Direito. Patrimônio cultural é obra do povo como um todo. Temos o direito de conhecer o presente e o passado de nossos artistas, políticos, governantes. Neste meu Brasil que insiste em não ter memória. Diviniza demônios. Elege espertalhões. Onde Presidente escarra no Saber e no Conhecimento. Como estaria a minha pequena bagagem literária sem livros e filmes biográficos?
Na próxima semana: Como o paparazzo e a primeira dama da maior potência do planeta, cada um a seu modo, respeitaram a liberdade de expressão.
Trilha sonora: Elina Karokhina (balalaika) ‘Dr Zhivago’
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Para melhor leitura Zoom 125.