Trinta e cinco anos antes da Queda da Bastilha, George Washington estava na luta contra a monarquia francesa e seus soldados em território americano. Treze anos antes da Queda da Bastilha as 13 colônias inglesas se revoltaram contra os impostos abusivos e o controle sobre a vida dos cidadãos. Teve início a Guerra pela Independência dos Estados Unidos.
Dois anos antes da prisão da Rainha Maria Antonieta o Congresso da jovem nação proclamava a sua primeira Constituição. No dia 4 de abril de 1789, três meses e dez dias antes da vitória dos revoltosos franceses, George Washington tomava posse como o primeiro presidente dos Estados Unidos. O Dia Nacional dos EEUU é 4 de julho. O da França, 14 de julho.
Eu assistia ao jogo Portugal x França com grupo de vinte pessoas. Futebol e política se cruzaram com cerveja, sardinha assada, vinho, vodca. Três candidatos a deputado estadual, quatro professoras universitárias, cinco militantes lulistas, duas dilmistas roxas, faziam provocações e acusações ideológicas mutuas. Esquentados pela mistura de vinho e caipirinha de vodca deitavam regras e dogmas em socialismo, bolivarianismo, capitalismo, terrorismo, relativismo.
No meio da retórica e de chavões fui provocado a meter colher ideológica e palpitar sobre a Revolução Francesa, e sua importância para o mundo. Resumo o que rolou:
Comecei com datas, nomes, locais, da luta pela independência dos Estados Unidos, anteriores à Revolta Francesa. Na época, não se falava em Revolução, e sim em substituir o Rei e na Queda da Bastilha, ícone maior da repressão.
Foi Karl Marx quem fixou no imaginário popular europeu a figura Revolução para acabar com a Monarquia e a burguesia. Parte das teorias que ele burilava e colocou em seu Manifesto Comunista.
O clima esquentou, quando eu, amolecido pela sensualidade tímida da professora A. C, fluente em inglês e aprendendo russo, já calibrado por Stolichnaya, beliscando tainha assada, disse: “Antes de falarmos na Revolução Francesa, vamos falar na Revolução Americana”.
E saber que a Declaração dos Direitos Individuais, Cidadania, com liberdade religiosa, de Assembleia, petição, liberdade individual, de expressão, são princípios consagrados pela Primeira Constituição dos Estados Unidos. Aceitos e adaptados pelos revolucionários franceses.
Que o maior “inimigo” da França foi a Inglaterra na guerra dos Cem anos. Que a morte de Joana D’ Arc, a camponesa revoltada de 19 anos, queimada na cruz por soldados ingleses, pairava como sombra de vingança no imaginário francês contra o Rei da Inglaterra. E que a revolta americana, e a independência, foram exemplo, estímulo, alavanca, para os revoltosos franceses contra a monarquia.
Se, pequenas colônias, lá da selva, derrotaram o Rei da Inglaterra, “por que nós não podemos derrotar o Rei Luiz XVI e acabar com essa monarquia de brioches”.
Quanto mais eu aprofundava com datas, citações, o pau comia. Desqualificando. Técnica usada pelo patrulhamento ideológico, conhecida durante e depois de minha experiência soviética. Usada e renovada pelo “esquerdismo da corrupção”.
Que enquanto a revolução francesa se contorcia com Saída e Entrada de monarcas, mantendo os mesmos mecanismos sociais, difundia populismo e mitos (o “revolucionário” Napoleão coroando-se Imperador, Napoleão III, Reis) os EEUU rompiam vínculos com o atraso, obscurantismo religioso, com o mesmo sistema de governo: Legislativo, Judiciário, Executivo, uma Constituição, com menos ideologia e mais tecnologia, partiram para ser, em cem anos, a mais desenvolvida nação do planeta.
Disse que Thomaz Jefferson, o “pai” da constituição norte-americana, acusado de anarquista, ativista, francófilo, repassava dinheiro e mandava material impresso “subversivo” para seus leitores e amigos na França.
Que aos Estados Unidos, economicamente dependentes do comércio, da marinha, e dos investidores ingleses, interessavam, e muito, a queda da monarquia francesa.
Percebi que professores, candidatos, militantes, pouco sabiam, e desconheciam, o processo histórico dos Estados Unidos. Mas, sabiam, repetiam, La Marseillaise. Não citavam Washington, Jefferson, Franklin, mas, sabiam de Marat, Danton, Robespierre. E por analogia, Che Guevara, Hugo Chávez, Evo Morales, Lula, José Dirceu…
Perguntei: Por que a Revolução Americana, anterior à Revolução Francesa, é desprezada, relegada, esquecida, distorcida?
Ouvi mantras e dogmas da cartilha: “Ok, Jota Alves, Thomaz Jefferson escreveu a constituição, era intelectual, mas “comia” escravas”. Alguém respondeu por mim. “Liberdade, Igualdade, Fraternidade, foi a Revolução Francesa que ensinou ao mundo”. Finalmente, a professora tímida reagiu: “Mas, foram esses princípios que nortearam a revolução americana e influenciaram a Revolução francesa. A americana não ficou famosa por ter guilhotinado Rei e Rainha, que estavam distantes, na Inglaterra. Mas, a primeira bandeira revolucionária foi a dos Estados Unidos. Porém, eles não criaram uma música tão vibrante, bonita, como La Marseaillese”.
Terminei o primeiro tempo daquela partida ideológica ao informar que os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer o governo da Revolução Francesa. O primeiro país a reconhecer a Independência do Brasil. .
Ficaram atentos quando eu disse que mesmo após a Revolução, a França continuou com o seu colonialismo escravocrata. Franceses guerrearam contra portugueses, holandeses, espanhóis, por terras americanas, e no Brasil. Entrou na África, sudeste asiático (Polinésia francesa, famosa pelo pintor Paul Guaguin). Criou as colônias Haiti, Nova Orleans (vendida por Napoleão aos Estados Unidos por U$ 15 milhões) Guiana Francesa, Martinica, Guadalupe, São Martinho, São Pedro, São Bartolomeu. Inglaterra e França dominavam por terra e mar.
Paris, Cidade – Luz! Banho de cultura
A França com o terceiro maior território europeu (Rússia e Ucrânia) e com a sua capital Paris, Cidade- Luz, encantava (encanta) o mundo. Como fizeram Alexandria, Cartago, Roma. Poetas, pintores, escritores, músicos, o beautiful people, exilados e refugiados de todos os impérios, esquerdistas festivos, sentimentais, saudosistas, sectários, fanáticos, queriam (querem) seus quinze minutos de fama em Paris de onde doutrinam e influenciam seus companheiros em terras distantes.
Na Corte russa falava-se francês. Exércitos, como o brasileiro, foram criados com instrutores franceses sob a influência do Positivismo. Até hoje, o melhor presente que um pai americano pode dar aos filhos é uma viagem a Paris, para banho de cultura. Paris, cidade de todos os desejos, sempre influenciou e glamurizou o mundo com: Voltaire, Victor Hugo, Lafayette, Balzac, Stendhal, Proust, Romain Rolland, Camus, Renoir, Monet, Picasso, Chanel, Edith Piaf, Brigitte Bardot, Pigalle, Quartier Latin, Maxim’s, Dior, Alain Delon, Pierre Cardin, Ives St.Laurent, Jean Paul Sartre, Platini…
Enquanto Paris recebia intelectuais de todos os versos, partituras e pincéis, trabalhadores sem emprego, camponeses sem terra, europeus, aos milhões, emigravam para o Novo Mundo, Terra Prometida, da Liberdade, do Progresso. E a nação americana foi se formando com irlandeses, escandinavos, italianos, alemães, holandeses, russos, franceses, portugueses, espanhóis...
Por iniciativa do escultor Fredéric Bertholdi, com apoio do presidente Ulysses Grant que garantiu o local, ilha da União, campanha mobilizou imigrantes que doaram dinheiro e horas de trabalho para o presente da França aos Estados Unidos: The Statue of Liberty. Inaugurada em 28 de outubro de 1886.
A lembrar que os Estados Unidos foram os primeiros a proclamar e consagrar os Direitos Individuais (que pertenciam à Monarquia). Princípios usados com coragem e beleza pela Revolução Francesa.
(Fundador e editor do jornal The Brasilians, criador do Brazilian Day, integrei a Comissão de Celebração do Centenário da Estátua da Liberdade. Dediquei o Carnaval do Brasil no mundialmente famoso Waldorf Astoria Hotel ao Bi Centenário da Independência dos Estados Unidos. E um Brazilian Day à Ulysses Guimarães e ao Bi Centenário da Constituição dos EEUU quando no Brasil lutava-se para aprovar constituição, pós ditadura).
A revolução de Outubro e a propaganda
O novo país, América, passou a influir, ser ouvido, a partir de sua presença e vitória na primeira guerra mundial. Com o triunfo da Revolução de Outubro, proclamada comunista, o mundo ficou abalado e dividido.
Mas, a infra- estrutura americana já estava fortalecida. O país unido. O cinema despontava como influente veículo de comunicação mundial. Nova York levantava arranha-céu sem parar. A Broadway criava musicais no lugar de óperas. Mas, o charme e a magia continuavam com a Paris da queda da Bastilha, da Liberte, Igualite, Fraternite.
A influência do Partido Comunista Francês foi avassaladora nas escolas, colégios, universidades, imprensa, artes. A intelectualidade francesa influenciava a esquerda latina, brasileira.
Guerra fria
No confronto comunismo x capitalismo, URSS x Estados Unidos, a propaganda stalinista não deixava “existir” revolução americana. A prioridade era a revolução francesa. Tida como “mãe” da Revolução de Outubro. Teoria e picaretagem ideológica que Lênin descartou e denunciou como errada e falsa.
Os Estados Unidos foram fundamentais para a vitória dos aliados e derrota da Alemanha nazista. Mas, o confronto comunismo x capitalismo era inevitável. De 1947, ao fim da União das Repúblicas Soviéticas (URSS), vivemos abalados e influenciados pela Guerra Fria. E nela, comunistas brasileiros guiados pelo Partido Comunista da União Soviética, dominaram (dominam) importantes setores do ensino, cultura, artes, da imprensa…
O militante lulista virou-se para mim e triunfante repicou: “ Os gringos foram derrotados no Viet Nam. Os EEUU perderam a guerra lá. Eu: “Antes deles, os franceses foram derrotados por Ho Chi Min”. O militante de esquerda não sabia que a França invadiu o Viet Nam e perdeu a guerra.
Nunca antes na historia desse país
A tragédia brasileira é acreditar em mitos, seguir, aplaudir, votar em espertalhões. A inteligência cultural, midiática, artística, política, cooptada pelo viés totalitário, não consegue livrar-se da zika ideológica que contamina professores, meninos, meninas, escolas, colégios, universidades, artistas. Deturpam. Distorcem. Esquecem. Plagiam. Trocam, deletam, textos e imagens. Interpretam pela cartilha da mobilização eleitoral. Nas aulas, livros, nas perguntas de concursos e vestibulares, lá estão veneno e vírus da má informação, da milonga ideológica, da “luta de classes” a serviço da corrupção.
O fruto maduro do ensino e herança totalitária está em Lula. Achando-se o máximo ele repete: “Nunca antes na historia desse país”. Ou seja: “Eu sou o caminho, a luz e a verdade”. A história política e social do Brasil, “começa” com Lula.
“Não leio livro, jornal. Eu não preciso de diploma para governar o Brasil”, isso é literalmente difundido em escolas, universidades, Movimentos. E brasileiros-eleitores acreditam nisso. TVs, empresários, igrejas, sindicatos, artistas, foram calados por “benefícios” estatais. Hugo Chávez fazia o mesmo na Venezuela. Mas, nem Stálin, Mao, Fidel, Kim Jong, foram tão arrogantes e deliraram tão alto!
Mas, se o presidente da Venezuela vai a TV e diz, “prova”, que Hugo Chávez faz milagres, é um Santo nacional, Lula é o Beato que quer voltar em 2018. Como se nada tivesse acontecido ao Brasil nesses 14 anos. E, se, 50 milhões continuarem a votar nele, que Vive La Revolucion! Falsificadores e cortadores de história dominam Educação e Cultura no Brasil.
Quem não conhece respeita e valoriza a história de seu país, não respeitará a história de outros países.
A Revolução Francesa deve ser ensinada. Nunca esquecida. Mas, os Exterminadores do Futuro e seus militantes jamais valorizarão a Revolução Americana. Pois, para eles, tudo de péssimo no governo LD: 5 mil obras paralisadas, desemprego, carestia, embrutecimento social, aumento do tráfico de drogas, roubo, assalto, crimes, corrupção, é culpa dos Estados Unidos!
Trilha sonora:
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