Meu conto de Natal

 

Trilha sonora: 

 

No Brasil, biza, avô, pai, tio, madrinha, professora, contavam histórias de Natal para bisnetos, filhos, netos, sobrinhos, afilhados, alunos.

Na Rússia, o Natal era celebrado nos dogmas da igreja ortodoxa. Com São Nicolau. E Dad Maroz. Com a revolução de Outubro descambando para o ateísmo e perseguição religiosa os russos (soviéticos) ficaram quase um século sem comemorar o Natal. É incrível as voltas que o mundo dá. É impressionante ver a Praça Vermelha, o Palácio de Inverno, o Kremlin, o Mausoléu de Lênin, cobertos com decoração natalina.

Dá arrepio ser testemunha ocular e ideológica dessa reviravolta. Dessa história e exemplo que deveriam ser muito bem estudados pelos influentes herdeiros brasileiros do comunismo soviético. Constatei que não foi a religiosidade, mas, as tradições, a ancestralidade, incrustadas na alma russa que fazem ressurgir Natal, procissões, cultos, nas igrejas restauradas por velhos comunistas. O Deus russo existe.

Nos Estados Unidos, o Natal continua sendo celebrado com muito afago familiar. Com especiais pela TV. Com todas as suas cidades decoradas. Avós e pais continuam contando histórias. As crianças com toda a modernidade tecnológica esperam Papai Noel descer pela chaminé.

Na minha infância não houve Papai Noel.

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Na “mangedoura” onde nasci, como os meninos dos garimpos, eu fazia meus presentes. A boiada de osso do rabo de boi (depois da rabada com mandioca). O cavalo de pau de vassoura. O caminhão de lata ou caixa de sardinha. Ao sol os ossinhos da boiada ficavam reluzentes, branquinhos. Os pintados com esmalte ou batom eram os touros.  

Sou do tempo da lamparina. Não havia pirata da perna de pau, olho de vidro. Não havia Príncipe nem Branca de Neve. Havia Deus. O diabo. E alma de outro mundo. Eu não sabia que havia Papai Noel. Vó Tereza, dona de garimpo e de pensão, no centro da corruptela do Alto Coité não gostava do Novo Testamento. Todo dia, antes de dormir, lia o Velho. Contava histórias de pessoas e milagres que eu não conhecia. Mas, gostava de ouvir.

Pançudo. Com o vício de comer terra. Da fofinha, vermelha, de formiga grande. Com a barriga cheia de verme eu andava e brincava nu. Aos sete anos meus pais adotivos levaram-me para Cuiabá. Quem sabe no internato dos padres eu seguiria a carreira do sacerdócio. Quem sabe um dia eu seria médico. Militar. Antes do Fantasma, Capitão Marvel, Cavaleiro Negro, Tarzan, do faroeste, eu já conhecia pistoleiros.

Os goianos Dino e Lolita, com vários assassinatos “nas costas”, eram respeitados no Coité. João Galo e Canguçu em Poxoréu. Todo fim de semana eu via um corpo estendido no chão com as velas redentoras a seu redor. Não havia esse negócio de “desviar” diamante. A “Justiça de Mato Grosso” funcionava.

A primeira árvore de Natal

imagesCAP5LW43matriz cbaO prefeito de Cuiabá, o sergipano “pau rodado” José Garcia Neto. Mas, era sua esposa Maria Ligia quem trabalhava as belezas da então Cidade Verde. Otávio, pintor, poeta, boêmio, filósofo de bar, encarregado das árvores de Natal na Praça da República e Praça Alencastro (sede da Prefeitura) comia e bebia na nossa pensão, bar, armazém de Secos e Molhados, na Rua do Meio, a cem metros da Matriz Nosso Senhor Bom Jesus de Cuiabá, onde fiz a primeira comunhão e fui crismado pelo Arcebispo Dom Aquino Correa.

Ao ajudar Otávio a decorar a árvore de Natal pública eu estava “criando e levantando” a minha primeira “árvore”.

Os presépios

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Eu andava por Cuiabá “descobrindo” presépios. Sempre havia pitomba, cajazinho, manga caroço, pé-de-moleque, chá com bolo.. O mais elétrico e eletrizante de todos o de Durval na Rua XV de novembro próximo à Igreja de São Gonçalo onde fiz novena para Santa Terezinha ajudar-me a passar nos exames. Sem boas notas eu não seria aceito (sem pagar anuidade) por mérito no Colégio Dom Bosco. O que aconteceu por um ano. Depois o ginasial no Colégio Estadual.  

A missa do Galo.

A grande atração natalina era a Missa do Galo e ao fim dela a Ceia de Natal. Mas, eu não ia à missa. Ajudava na limpeza de bode, porco, galinha, que preparávamos para os clientes. A nossa ceia era o almoço requentado do dia seguinte, 25 de dezembro. Tive os meus momentos pandorga, papagaio, buque, bolita, finca-finca. Coleção de figurinhas e carteiras de cigarro. Time e jogo de botões. Houve pouquíssimos presentes. Mas havia a bola. O presente desejado pelos meninos de minha geração.

Por matar aula para jogar bola levava surra de cinto e chicote de galho de goiabeira (o mais doído). Não havia bulying. Todo mundo tinha apelido, que caía como luva. Era aceito. E ficava para sempre. Havia a bola de pano, seringa, de couro. Jogava-se descalço, com pé-de-anjo, chuteira. Os ídolos eram os do Torneio Rio/São Paulo. Não os víamos, mas, os sentíamos pela Rádio Nacional na voz de Jorge Cury e Antônio Cordeiro. Havia alegria. Poesia. Música com sons de piano, flauta, sax, trombone, violino. Namoro com filhas de família e com as “meninas” do Baú e Beco do Candieiro. O brasileiro era mais pobre. Porem, menos embrutecido. Mais honesto. Mais solidário.

O Papai Noel Karl Marx untitledkarl marx papaiAos quatorze anos deixei a bola e entrei de mala e cuia na agitação estudantil. A primeira greve dos estudantes cuiabanos foi por meia passagem nas quatro jardineiras da cidade e meia-entrada no único cinema. Criação de grêmios nos colégios. A ACES (Associação Cuiabana dos Estudantes Secundários). O primeiro jornal: O Secundarista. Viajei pelo imenso Mato Grosso criando grêmios. Organizando o primeiro congresso da UME (União Mato-grossense de Estudantes) em Corumbá. O segundo em Dourados. De onde fui expulso e metido num caminhão na mira de revólver. Dois congressos da UBES no Rio. A Mocidade Trabalhista do Brasil. Brasília. A UESB. Moscou. Daí em diante a barba do Papai Noel foi substituída do meu imaginário pela de Karl Marx e a capa do bom velhinho pela bandeira vermelha do Partido Comunista da União Soviética. No lugar da caixa de presente, a foice e o martelo.

 

C Novim Godam Moscou ano noivoNos dois primeiros anos cercado de gente, mas completamente sozinho, bateu tristeza. Na imensidão branca, típica de trenós, igrejas por todos os lados, eu senti falta do que não conheci na infância. Se saudade é coisa de brasileiro, senti saudade de Papai Noel. Senti falta do feeling de Natal. Não havia Natal na URSS. Celebrávamos o Ano Novo.

C Novim Godam com vodka, caviar, dievuski. Fui duas vezes ver o ano nascer na Praça Vermelha. Russos iam às igrejas autorizadas. Mesmo com o Natal proibido os cristãos ortodoxos celebravam o nascimento de Cristo.

A árvore de Natal do Rockfeller Center

Era dezembro quando desembarquei no aeroporto Kennedy. Fazia frio. Mas, não como em Moscou. Nevava, mas não como em Moscou. A minha primeira noite na Meca do capitalismo mundial foi no Hotel Mansfield. Um 2 estrelas na Broadway. Pela manhã, o susto do deslumbramento. Para subir ao andar onde ficava a Delegacia Brasileira do Tesouro, local do meu primeiro e único emprego em Nova York, entrava-se pelo número 30 Rockfeller Center. untitledrockfeller

E lá estava ela a maior árvore de Natal capitalista da minha vida de aprendiz comunista. Trinta e três metros de altura, beleza, significados. Um dia, quando já tinha tido meus primeiros quinze minutos de fama, fui convidado para a cerimônia “de inauguração” da árvore de Natal do Rockfeller Center. A meu lado, Edward Koch, prefeito da mais espetacular cidade do planeta. Presente e tanto para quem nasceu numa palhoça à beira de catras e monchões de garimpo.

A árvore  mais a praça transformada em pista de patinação emolduraram a minha vida de menino sem Papai Noel e Natal, por trinta anos consecutivos.

O mais bonito e contagiante Natal do mundo

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Na Rússia era o Ano Novo. Em Nova York, como todo “novato,” fui ver o Ano Novo nascer na Broadway. Esperei a contagem ate a bolinha ligar o painel do New Year. Lá, entrou, conseguiu um lugar, é difícil sair. E se sair, não entra mais. No aperto de tanta gente. Parado no frio. Urinei nas calças. Nunca mais voltei.

Passei Natal e Ano Novo em Paris. Abri champagne na torre Eiffel. É lindo o Natal nas noites brancas da Suécia. Ano Novo no calor de Santa Clara, em Cuba. No Hotel dos Guinchos, no Algarves, Lisboa. Posso afirmar sem “tendência capitalista” como diz o pessoal que me critica e ainda não tirou a mochila da Guerra Fria. Dizer olhando de frente para os que querem desmilitarizar as Policias do Brasil. Para os que tiraram o Repórter na História do ar. E, com certeza, vão continuar com os ataques pela web. Falo sem menosprezar os dogmas de quem ainda acha que Natal é mais um “crak do povo”. Em verdade vos digo: Nova York tem e cultiva o mais bonito Natal do mundo. O feeling é contagiante.

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A velha-nova Rússia renasce de suas cinzas de guerras, glórias, vitórias, derrotas, fracassos, e não tem vergonha em seguir o “capitalismo” em suas manifestações natalinas. Com “liquidações” e presentes. A China comunista engatinha pelo mesmo caminho. Neste Natal e Ano Novo mais Lamborghini, Rolls Royce, Ferrari, casacos de peles, relógios de ouro, joias, roupas das mais caras grife, serão presenteadas mais do que em Washington, capital do demônio imperialista. Do tigre de papel. O chinês luta para imitar e suplantar o americano. Para usufruir das benesses produzidas pelo capitalismo. Já chegaram à lua.

Reprise e Revival de filmes bíblicos. Natalinos.

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Nos Estados Unidos, cantores e cantoras continuam gravando canções de Natal em uma tradição que se perpetua. Sem constrangimento para quem é realmente famoso. As TVs, a cada ano, investem mais em seus Especiais de Natal. Escolas, universidades, igrejas, são incentivadas a criar Corais de Natal. Em 2014, estarão na telona Son of God, Moisés, Noé. Com releituras inovadoras. Os remasterizados Dez Mandamentos, O Manto Sagrado, Ben-Hur…

Rússia e Estados Unidos trocam mensagens e experiências natalinas. Trabalham para resolver seus gargalos morais. Diminuir a diferença social e econômica que existe em toda sociedade, atrasada ou avançada, rica ou pobre. No Brasil, a grosseria, rancor, azedume da revanche,  a ojeriza por farda e militar, principalmente, de gente do governo federal; mais o sectarismo e obscurantismo dos herdeiros ideológicos que influenciam as decisões da Presidenta; mais os Taleban do nosso atraso político-administrativo ; estão embrutecendo o Brasil. Atropelando sentimentos e emoções.

1472053_533890120040566_207574957_nCometem e repetem erros infantis do esquerdismo. E persistem em errar. Triturando alternativas e possibilidades. Castrando iniciativas. Insistem em manter o país distante dos centros de Saber, Ciência, Tecnologia, Pesquisa, Modernidade. Por preconceito, falsidade ideológica, negócios rendosos, estamos há doze anos atrelados ao pensamento arcaico, subdesenvolvido, altamente corrupto, do outrora emergente Terceiro Mundo. Quando há muito não há mais Segundo Mundo.

O presidente Lula jogou fora tempo que não é dele- e sim da nação-fazendo ponte para as artimanhas “ideológicas” e os negócios  de Hugo Chávez, Kadafi, Ahmedinejad, Mubarack, Zelaya, Fernando Lugo, os Kirchner, Evo Morales. Fez doações, perdoou dívidas, autorizou empréstimos. Fez a festa com recursos do povo brasileiro. Há contratos e acordos em “segredo de Estado”. Perfilou-se em abraços e brindes com ditadores, sanguinários, tri corruptos. A política externa continua um desastre. Porém, excelente em abrir negócios e negociatas.

Neste Natal mais insegurança e medo

O que paira sobre a família brasileira neste Natal? Neste fim de ano 13? A resposta de toda dona-de-casa, do centro, da periferia, do campo, não é o saudável clima natalino. É insegurança e medo. O governo deveria fazer pesquisa, usar o seu IBGE, para perguntar: “a Senhora caminharia para assistir a Missa do Galo? O culto da meia noite”?. “O Senhor levaria seu filho a um estádio de futebol”?

O sócio-lismo bolivariano com o populismo brasileiro apelativo arregaçam com a vida nas cidades. Embrutecem as relações sociais, contratuais. A ladainha “das elites brancas de olhos azuis” continua jogando brasileiro contra brasileiro. Os que se dizem admiradores (e até iguais) a Nelson Mandela incentivam a discriminação. Arregimentam seguidores e eleitores cativos pregando a desunião.

A zona rural está contaminada pelo contrabando, tráfico, consumo de drogas. O crak derivado mortal da cocaína vem em quantidade cada vez maior da Bolívia do muy amigo e companheiro Evo Morales. As nossas fronteiras abertas para a FARC, a turma do Boutesse. Engessam música, literatura, cultura em geral. Vulgarizam a grade televisiva que substitui a escola. Papai Noel é o velhinho-propaganda do voto. Natal não interessa. O voto interessa. Por isso presentinho. Bolsinha, por voto.

Dicas de Natal

Cuidado. Olho no prefeito (a) governador (a) que anuncia redução de gastos com energia elétrica, prego, pneu, e não decora a cidade no Natal. No Carnaval. Não apoia nem incentiva concurso de música, beleza, exposições de arte, campinhos de futebol, plantio de árvores e flores.

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Se nunca fez, faça. Se já fez, repita. Conte uma história de Natal para o seu neto (a), filho, sobrinho, afilhado. Dê asas à imaginação, aos sonhos, das crianças. Escreva um verso para a velha (a), namorada, esposo. Toque o seu LP, CD, DVD, MP3, preferidos. Comprar ou colher flores. Jantar com a família. Aperte a mão. Abrace. Dê Alô, Bom Dia, Feliz Natal, para o vizinho. Mesmo sendo aquele chato.

Não se deixe embrutecer pelas novelas da TV Globo. Pelo comodismo do governo federal diante da onda crescente de assassinatos. Crimes bárbaros. Pela covardia eleitoral de não tirar os zumbis sociais paridos pelo consumo, cada vez maior, de crak, das Ruas, Avenidas, Praças, Viadutos, Parques. E claro, não se deixe frustrar pela moleza do governo federal em combater de frente a corrupção que neste Natal engordará o peru de muita gente. Dos galos papudos que se achavam os Reis Magos do povo brasileiro.

Diante das incertezas que pairam sobre nós, ilumine-se. Informe-se. Leia versões diferentes. Lute para não ser inocente útil. Mais um boi gordo ou vaca bonita na manada. Neste natalis inviet solis Merry Christmas, Feliz Natal. Happy New Year. C Novim Godam.

Divulgue. Neste Natal Encaminhe www.oreporternahistoria.com.br. Escreve que eu publico: oreporternahistoria@uol.com.br. Para melhor leitura zoom 125.