Escreve que eu publico XXXI

Trilha sonora:

Faltou um passo em Três Passos para salvar o menino Bernardo

Adriana Berger (Pomerode / Páscoa 2014):

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Vou pela reportagem de Bela Megale e Isabel Marchezan na Veja 23-4-2014: “A história de Bernardo, um garoto magricelo, de cabelos castanhos, era conhecida de boa parte dos pouco mais de 20.000 moradores de Três Passos”.

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A lembrar-nos da Crônica de uma morte anunciada de Gabriel Garcia Marquez: todos sabiam que facas estavam sendo amoladas para o assassinato e ninguém fez nada para impedir. Na morte do guri Bernardo tem impunidade, barbárie, covardia. Sintomas que tomam conta da sociedade brasileira.

Quantos meninos e meninas estão pedindo atenção e ajuda?

Que lhes dêem bola. Que os tratem com dignidade e respeito. O calvário infantil de Bernardo é digno de filme, documentário, novela.

Mostra fraqueza, passividade, conivência dos agentes da lei com gestores educacionais, religiosos, familiares. Aponta mais uma vez para o enfraquecimento das nossas instituições e o embrutecimento da sociedade nesta década de maus exemplos. De afrouxamento cívico. De patifaria no comando da nação.

Impunidade- Embrutecimento- Covardia

1. Assistente social detalha o caso de Bernardo para a promotora que também recebe relatório do Conselho Tutelar: “o menino era vítima de negligência familiar a exigir acompanhamento”.

2. A escola sabia dos problemas de Bernardo: mal vestido, passava frio, dormia e comia na casa de amigos. (E que a mãe dele havia se suicidado. E que ele era mal tratado pela madrasta com a indiferença do pai). O suficiente para ação enérgica e acompanhamento.

3. O Conselho Tutelar e a Promotora sabiam que o pai do menino não o levou a psicólogo. E não recebia os assistentes sociais. Já uma afronta e delito.

4. Num verdadeiro grito por ajuda Bernardo vai ao Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Carente de afeto e atenção vê na Mulher da Lei a mãe protetora que perdera. Senta-se no colo da Promotora. Conta a ela o que muitos com poder de decisão já sabiam.

“Eu não vou pagar o pato”.

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O jogo de empurra é evidente. O exemplo vem de cima. “Nós não podemos pagar o pato” pelas relações (há muito conhecidas) do deputado com o doleiro. Há um passo para ocupar a presidência da República. È a escola do “não vi, não ouvi, não sei”. O exemplo do tirar o corpo fora. Da covardia instalada.

Todos que tiveram contato legal ou familiar com Bernardo acham que fizeram a sua parte. Aquilo que estava ao alcance. Lavaram as mãos. E agora após o brutal assassinato do menino vão à missa. Acendem vela quando Bernardo queria luz em vida. Fazem oração e caminhada por sua “alma”. Dizem-se indignados. Já vi esse filme.

É como na boate Kiss. Na Petrobrás.

Quantas moças e rapazes morreram no incêndio da boate Kiss? Os donos da casa-caixão da morte estão presos? Na compra- boa e ruim- da refinaria em Pasadena/USA quem é culpado pelo enorme prejuízo?Ninguém é culpado. Como no Mensalão “Que nunca houve. Os condenados não formaram quadrilha Seus atos não indicam corrupção”.

“Estão presos por capricho do presidente do STF. Guerreiros e heróis do povo perseguidos pela imprensa de “direita”, oposicionista. Vítimas da “elite branca de olhos azuis que manda nesse país”.

Há um passo da droga e da exploração sexual

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O menino completamente fragilizado “sem teto e sem chão” fazia gestos e sinais de SOS. Sozinho, foi ao Conselho de Defesa da Criança e do Adolescente pedir ajuda. Ele não sabia que corria risco de ser cooptado por traficantes, ladrões, assaltantes. Seria um pombo-correio, um avião.

Carente, abandonado, sem uma mão amiga, Bernardo era alvo fácil de pedófilo que o cobriria de atenção, “afeto”, passeios, doce, sorvete. Ele estava a um passo da homossexualidade. Da prostituição juvenil.

Tardou e falhou

“Cada um que não nos trouxe essas informações tem um pedaço de culpa no caixão do Bernardo”. (Promotora Dinamárcia).

Comentava-se pela cidade o abandono afetivo do “filho do médico”. Estaria o MP com “medo de tomar providência porque a família é da classe alta” da cidade? E a diretora e a psicóloga da escola? Os professores? Os colegas do guri?

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E o pessoal do Conselho Tutelar? Da Igreja que o menino freqüentava e foi coroinha? E o Juiz? Faltou um passo para salvar o pequeno Henry Potter de Três Passos. A Justiça tardou e falhou.

Ninguém teve lucidez e coragem para romper o cardápio, o legalês, a rotina. Ninguém quis sair do seu conforto emocional para, efetivamente, apoiar e proteger o piá.

Justificando-se a promotora de Infância e Juventude de Três Passos disse: “muitas pessoas também têm culpa na morte do menino”. Ela diz que vizinhos, amigos da família e a comunidade da escola onde ele estudava tinham conhecimento da situação de abandono familiar em que o menino se encontrava, recebendo pouca atenção do pai e menos ainda da madrasta.

“Vocês dizem: ‘Que horror, o Ministério Público não fez nada. Eu digo: ‘Que horror que o senhor e a senhora que sabiam disso não procuraram a promotoria e nem o juiz da Infância”.

O fato é que todos envolvidos no drama estavam mais preocupados em não aborrecer e se indispor com o pai, médico na cidade. Quando o objetivo primordial era proteger Bernardo. Estar com ele. Não apenas “fazê-lo sentir-se protegido”. Mas, protegê-lo de fato.

Há milhares nesse Brasil embrutecido.

Como o menino Bernardo há milhares nesse Brasil embrutecido pedindo, esperando, ajuda. Que vai além do material, da mesada oficial. Pesquisa para IBGE, IPEA, TV Globo, CNBB, FGV (se as Indiferentes de Brasília assim permitirem):

Por que mães estão matando filhos recém nascidos? Por que mais crimes bárbaros contra a criança? Por que mais mulheres esquartejam, queimam e escondem corpos? Por que a barbárie cresceu nesta última década? Quem e o que são os responsáveis pelo embrutecimento do Brasil?

Fala-se em 100 mil crianças desaparecidas nesse país governado por espertalhões. Falastrões. Alucinados por obras que rendem reais e votos. Cegos e surdos às mazelas que corroem o Brasil.

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Administrado por mulheres confusas. Rancorosas. Desatualizadas. Eleitoreiras. Embonecadas. Ativistas sem doutrina. Distantes da realidade urbana e rural como a ministra de Direitos Humanos.

O que Maria do Rosário fez de concreto pelo aprimoramento, fortalecimento, modernização, do Conselho Tutelar? Instrumento fundamental para o equilíbrio das relações pais e filhos. Os Conselhos que conheço estão desaparelhados e desprestigiados.

O que os ministros da Justiça de Lula e Dilma fizeram para acabar com a podridão no sistema carcerário? O que Dilma fez para coibir o crescimento galopante da corrupção, do crime?

Por que a presidente nunca se posiciona contra a barbárie que avança sobre a sociedade? Covardia? Silencio eleitoral? Mulher fôrma de gelo?

Ou ela não se interessa por “assuntos” que serão resolvidos quando “acabarmos com a diferença de classes”? Quando o socialismo bolivariano, lulista, triunfar no país? Mas, já não triunfou? Afinal, quem está no poder ha 12 anos depois de 20 dominando sindicatos, universidades, Cultura, pagando mídia?

O Juiz diferente

É natural, pois, que fiquem surpresos, indignados, com a atitude inusitada, “diferente”, do ministro Joaquim Barbosa. O Juiz que desceu do pedestal dos intocáveis. Dos poderosos. E partiu para a prática do cumprimento da lei. É muito cômodo dizer “fiz a parte que me competia. Julguei, condenei.

“O cumprimento da lei, da sentença, é responsabilidade do Estado”. É dever do governo. Mas, e aí? Nunca na história desse país precisamos tanto do Juíz-Homem da Lei comprometido com ordem e cidadania. Íntegro. Respeitado. Corajoso. Para a salvação do país o Juiz que fazia cumprir a lei e a sentença precisa voltar aos nossos tribunais.

Bernardo, 11 anos, vitima da covardia coletiva

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Quando olho para o aquário do meu neto de 11 anos me vem emoção pelo desejo do gauchinho magricelo, do menino Bernardo, que queria um peixinho de aquário. Barbaramente assassinado pelas bruxas de Três Passos com o silêncio das Indiferentes de Brasília. O piá Bernardo é vitima da impunidade e da covardia coletiva de Três Passos. Covardia coletiva que se espalha pelo país.

Eu não quero conhecer Três Passos. Eu não recomendo a ninguém conhecer Três Passos”. (AB)

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