Trilha sonora:
“O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime”. Henfil.
No inicio era o verbo. Que se fez riso. Que gerou o humor. Irmão rebelde do riso que gerou a crítica, a piada política, a sátira dos costumes. Humor político é “do contra”. É venenoso, irônico, tipo Amigo da Onça. Quando alguém escorrega a gente ri.
O bufão cantava versos obscenos para alegrar o Rei broxa e glutão. Nas ruas, as marionetes dos pobres ironizavam o rico, o agiota. No teatro, as sátiras dos costumes passaram a críticas políticas, que levaram a protestos, à revoltas, às revoluções.
Da gráfica de Gutenberg surgiram ilustrações, retratos, caricaturas. Já dei meu Vive La France (arquivo www.oreporternahistoria). Agora, é Vive Le Pasquim, ou (Pascam), “jornal “chinfrim, de piadas pornográficas, escrito nas coxas, por bêbados”.
O Pasquim foi criado pela audácia, coragem, comprometimento, de jornalistas, caricaturistas, artistas, para peitar o Ato Institucional n.5, o da censura à imprensa, o da mordaça a qualquer opinião contrária à ditadura.
O pasquim no tambor do mundo
Quando escreverem, ou reescreverem, a história do (ou de o Pasquim) do humor brasileiro, não façam como a TV Globo/Brazilian Day. Dediquem duas linhas no rodapé a Jota Alves e Amílcar Moraes, exportador e vendedor, de revistas, jornais, livros, discos, divulgadores e impulsionadores da cultura brasileira no exterior.
Foi assim: Ocupamos andar inteiro no número 37 West da Rua 46, entre a Quinta e a Sexta Avenida (Avenue of the Américas). Hasteamos a primeira bandeira brasileira. O Clube Brasileiro de Viagem com passagens aéreas, fretamentos (charters). Natal em Família, Carnaval in Rio, turismo receptivo.
O Brazilian American Promotion Center com aulas de português, traduções, assistência a brasileiros. Eventos. O Brazilian Sunday, com o DJ catarinense Peter Martins. O jornal The Brasilians. O Carnaval do Brasil no Waldorf Astoria, o Dia do Brasil. Abrimos escritório no Rio, São Paulo, Belo Horizonte.
A Rua brasileira de Nova York tornava-se uma realidade atraente. Lojas, hotéis, restaurantes, importadores, advogados, médicos, dentistas, manicures, serviço delivery. Todos faturavam. Recebíamos as nossas celebridades: Sonia Braga, Silvio Santos, parlamentares, empresários. Leonel Brizola, Tancredo Neves, Pedro Simon, fazendo costuras politicas na Rua 46.
Mas, eu gostava mesmo era de receber, conhecer, conversar, com brasileiros, (principalmente as brasileiras), que sem internet, celular, ia “matar saudade in person” no nosso Mercado Brasileiro.
Passar fim de semana fora, nem pensar. Pois era no sábado que o espaço ficava cheio de gente contando suas aventuras, pedindo algum tipo de ajuda, quebra-galho, bebendo guaraná, comprando goiabada, palmito, doce de leite, feijão preto, castanhas, leite de coco. Pitu por baixo do pano. E mais tarde, em aberto, a cerveja Brahma, patrocinadora do palco do Primeiro Dia do Brasil, thanks to Peter Armstrong, seu representante comercial.
Amílcar Moraes, com a MZ Representatives, em Newark, New Jersey, importava o Jornal do Brasil, o Globo, Estado de Minas, Zero Hora, revistas em quadrinhos, Ele/ Ela, Play Boy, Manchete, a mais importante revista do momento, discos, livros.
Tendo chegado de Moscou, eu não conhecia o Pasquim. Estava transando (não se dizia “ficando”) com aeromoça da VARIG. Ela trouxe do Rio um exemplar. Aquela mistura de piada contra o regime. Cacete contra a censura à imprensa. As caricaturas, o humor, o molho crítico bem brasileiro, deixaram-me empolgado.
Aconselharam-me a não colocar o “jornal subversivo” na banca. Insisti com Amílcar. Começamos com uns dez exemplares. Chegamos a 150. E não dava para quem queria. Espalhados pelos States, brasileiros liam matérias do Pasquim reproduzidas no The Brasilians.
Duas experiências de humor
Moscou: Tive o privilégio de viver na capital do comunismo e na capital do capitalismo. Imagine o que aconteceu com os que fizeram caricatura, contaram piadas, sobre Stálin, com Béria, o Chefe da Segurança Nacional (KGB)? Imagine alguém esquecer no hotel uma caricatura do Garotão Vitalício da Coréia do Norte. A pessoa não chegará ao aeroporto. E os nossos bolivarianos querem o “controle social/socialista da mídia”.
Humor engajado, patrulhado, ”ideologicamente correto”, não é humor. É propaganda oficial para provocar riso e choro forçados, que dão IBOPE, elegem gente sem graça. A URSS não se escafedeu somente por seus problemas econômicos, atraso tecnológico. Por ter sido derrotada na “guerra nas estrelas”. Mas, por censurar a liberdade de expressão, castrar iniciativas individuais. Se lascou por impor piada pronta, “correta”. De riso frio. Do realismo soviético restam-me as piadas espontâneas do palhaço Popov, astro do circo de Moscou.
Nova York: Foi Paulette Ehrenburg, minha primeira girl friend in the USA, quem me levou a um bar de stand up comedy e aos teatros off off Broadway para ver os estagiários do humor, da piada política. A TV USA abre espaços nobres, especiais, para o humor. Os Talk Show duradouros (30/40 anos) são famosos pelas piadas, entrevistas humorísticas. Do Gordo e o Magro, dos Três Patetas, Groucho Marx, da torta na cara de Bob Hope, Johnny Carson, Letterman, a boa tradição continua.
Jornais, revistas, blogs, mantêm espaço nobre para a charge, retratos caricatos. O presidente dos Estados Unidos tem um dia especial para ele ouvir e contar piadas.
No Brasil, cada vez mais embrutecido, grosseiro, “Pátria Educadora”, com altíssimos cifrões de corrupção oficial, o humor e a caricatura perdem espaço para o escracho repetitivo. Para a “desigualdade e discriminação” sexual, religiosa, racial. A mobilização permanente, com queima de ônibus, vandalismo, são “direitos humanos”, tipo Maria do Rosário e outras Dilmetes rancorosas, mal humoradas.
Em horário nobre, piada de bêbado e bicha, masturbação no Big Brother Brasil, dão lucro e IBOPE. O Vampiro de Chico Anísio deveria voltar e chupar o sangue dos redatores do Zorra Total. Dos produtores de “humor” na TV brasileira.
Pela publicidade que sai aos jorros da Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, é melhor mostrar bunda, mulher melancia, morango, mulher melão, aberrações, do que criticar o governo das Dilmetes.
Falam em controlar a mídia. Para melhorar o conteúdo. E patrocinam lixo televisivo para controlar o voto e a manutenção do poder. A grade televisiva 2015 não é piada de salão. É piada de baixa qualidade.
Lula e Dilma: humor engajado, politicamente correto.
Para que caricatura, piada, liberdade de expressão, se Lula já disse que nunca houve Mensalão? Que tudo não passa de invenção da mídia golpista, da direita nazista. Seguidores do candidato Aécio Neves, o novo Herodes. Que seu filho, o Lulinha, é um ”Ronaldo dos negócios”. Piada para Lula deve ser politicamente correta.
Para que sátira, crítica, se a presidenta diz que nunca viu nada de errado na conduta de Graça Foster (basta ver os contratos de Mister Foster com a Petrobras, presidida pela esposa, Graça, a Foster). A crítica para Dilma deve ser ideologicamente correta.
Por que tirar sarro (essa é do tempo do Pasquim) da presidenta se ela já disse que vai cortar da própria carne. Doa a quem doer. Ela teve que manter os 39 ministérios para acomodar a sua base desalinhada, pela governabilidade do país. Os redatores de Dilma entregam piada “politicamente correta” para ela contar ao povo. Onde o riso?
Ziraldo, pessoal do Pasquim anos 70, do Pasquim Séc.21, nem pensar em voltar com caricaturas, piadas políticas. Vocês perderam o posto de guerreiros do povo, de heróis da luta contra a censura.
Atualmente, no Reino Bolivariano da Pátria Grande, de Moreno, Lula, Evo Morales, Marco Aurélio Garcia, Dilma, guerreiros do povo são os heróis do Mensalão.
Caricaturistas, uni-vos. Je suis Pasquim!
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