Trilha sonora:
O governador Pedro Taques decretou 2015 o Ano de Rondon. De 3 a 5 de maio haverá, mais uma vez, festança em Mimoso, no pantanal mato-grossense, onde nasceu Candido Mariano da Silva Rondon. É mais um governador a prometer o término das obras do Memorial Rondon que na lagoa de Chacororé se parece à carcaça de um Dino pantaneiro.
Minhas pequenas histórias com Rondon:
Em Cuiabá: A diretora Diva Siqueira, da escola Modelo Barão de Melgaço, entrou na sala e disse: “Crianças, amanhã quero ver todos vocês de roupa limpa, sapato lustrando (o meu era o Tanque, sola de pneu), cabelo bem penteado. Vocês vão conhecer uma pessoa muito importante. Um herói do Brasil”.
No vazio histórico que se consolida no país desde antanho, para um menino de 10 anos, vindo do garimpo, do tempo da lamparina, sem TV e novela, os meus heróis eram Ademir, o artilheiro do Vasco da Gama, Traçaia o cuiabaninho driblador que “estraçaiava” qualquer defesa, o Capitão Marvel, o Fantasma, Zorro, o Cavaleiro Negro, Tarzan…
“Ele entrou. Todos de pé. Em reverência àquele homem que me pareceu baixinho, cabelos ralos já brancos, cara de índio (como se dizia). Fomos para o pátio e cantamos o Hino Nacional. Depois, como fazemos com os nossos heróis, esqueci Rondon. Uma lembrança ambulante na história do Brasil.
No Rio de Janeiro: Depois que criamos a ACES (Associação Cuiabana dos Estudantes Secundários) e a UME (União Mato-Grossense dos Estudantes) comandei a primeira delegação a um congresso da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundários) na sede da UNE, Praia do Flamengo.
Silva Freire, da revista O Movimento, do Centro Cultural da UNE, morava ali perto, na Rua Correia Dutra, onde mais estudantes cuiabanos dividiam espaço na “baiúca do Freire”.
Folclorista, poeta, jornalista, advogado, político, Silva Freire vibrava com tipos populares, com a cultura de seus ancestrais indígenas. E foi o “Bugrinho”, quem me levou ao apartamento de Rondon, que com Eurico Gaspar Dutra, eram os ícones cuiabanos no Rio de Janeiro.
Ficou na memória a cadeira de balanço, fotos de Rondon com Roosevelt, a Matriz de Cuiabá onde eu fiz a primeira comunhão. Rondon enxergava e falava pouco, mas, permitiu uma foto para a revista da UNE. Mais uma vez, aquele herói, reverenciado no exterior, ficou como uma penumbra na minha memória não treinada para reter informações básicas da história do meu país.
Em Nova York: Eu morava no lado Leste do Central Park (Rua 65 esquina com Park Avenue). O Museu de História Natural fica no lado Oeste (Rua 79). No meio, um campo de futebol improvisado. Quando dava, ia bater bola com ex-craques famosos do futebol latino e brasileiro que batalhavam em Nova York.
Aos domingos, eu caminhava, e muito, pela cidade. Descobria Ruas, lojas, novidades, sons, gente. Passando pela calçada do Museu de História Natural senti o estalo da grande surpresa. Uma alegria que jorrava em ímpetos emocionais. Muito comum quando se vive no exterior. “Saudade é coisa de brasileiro”. “A gente sai do Brasil, mas, o Brasil não sai da gente”.
No hall um painel gigante com fotos de dois RR: Roosevelt e Rondon. Eu queria dizer para os que passavam: “Olhem, esse aqui é Rondon, ele é brasileiro, é lá de minha terra e de minha gente”.
No jornal The Brasilians edição especial à Expedição Roosevelt-Rondon. Levei brasileiros ao Museu. Fiz amizades com estudiosos, especialistas em Rondon. Vasculhei livros, imagens, recortes. Afirmo: Há mais material disponível sobre Rondon nos Estados Unidos, na Bélgica, Noruega, Inglaterra, do que no Brasil.
Freqüentando o Museu conheci Marjorie Andrade. A nossa modelo estava em capas de revistas famosas. E o que eu mais gostava era “descobrir” brasileiro/a fazendo sucesso nos Estados Unidos. Adriana Krambeck, filha de catarinenses vivendo em Detroit, eleita Miss Michigan, foi uma dessas lindas e inesquecíveis descobertas.
Marjorie vivia no Central Park West, na região do Museu de História Natural. Hoje, quando “vejo” Rondon, vejo Marjorie. E quando penso na beleza e na luta de Marjorie, uma heroína brasileira nas terras dos Roosevelt, penso na obra, na coragem, no patriotismo, de Rondon, o Pai das Comunicações.
No Governo de Mato Grosso: A medalha do governo de MT, aos meus convidados para a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, por sugestão do antropólogo João Vieira, do Museu do Índio da UFMT, seria Medalha do Mérito Ecológico Rondon. A burocracia, ciúme e intriga política, sovinice para não “gastar” dinheiro com a fabricação das medalhas, certificados, camisetas, não permitiram.
Omar Fontana, (Transbrasil, Sadia), presidente da WWF/Brasil, Thomas LoveJoy do Smithsonian Museum Institute/Washington, Orlando Vilas Boas, Burle Barx, entre as personalidades nacionais e internacionais homenageadas.
Silva Freire liderava movimento para o translado dos restos mortais do Marechal Rondon e do Presidente Eurico Gaspar Dutra do Rio de Janeiro para Cuiabá. No governo, fiz gestões nesse sentido. Pensamos um Panteão na Praça 8 de abril, data de aniversário da capital de Mato Grosso. Continuo achando que o translado é justo, possível. “Vejo” barcos, canoas, carros, multidões. Helicópteros, aviões, sobrevoando os rios, o Pantanal, cidades, na maior revoada cívica, histórica, que Mato Grosso já presenciou.
Para fazer história é preciso entrar na história. Sem falsificação e plágio. Com dignidade e modéstia de aprendiz. Precisamos repudiar com energia o marketing vagabundo e imbecilizante do “nunca antes na história deste país” que Lula com arrogância repete a lembrar que antes dele, nada.
Gente que adota esse tipo de discurso faz parte dos que no governo manda reeditar livros sem as fotos de companheiros e amigos de ontem. Apagam ou adulteram textos. Não haverá mudanças efetivas na sociedade sem a conservação das conquistas dos que nos antecederam.
De repente, no lugar de Museu, Memorial virou moda. E foi no embalo Memorial JK, Memorial Coluna Prestes, Memorial Sarney, que o governador Dante de Oliveira começou a construção do Memorial Rondon. Bela obra do arquiteto José Affonso Porto Carrero.
Mimoso I: A estrada era de chão, buracos, lama, solavancos, compensados por viveiro natural de pássaros e borboletas. Uma maravilha de espetáculo para quem chegava da selva de pedra chamada Nova York.
Após 25 anos sem vê-lo fui a Mimoso visitar Carlos Reiners, irmão de Naná Reiners, meu ardente amor secundarista. E de Oswaldo Reiners, presidente do grêmio 7 de Setembro do Colégio Estadual. Na sua dignidade infinita, na sua bondade gratuita, na fé inquebrantável em seus ideais e sonhos libertários, Carlos Reiners, no final de sua vida, ficou conhecido como o último comunista do Pantanal.
Mimoso II: Há duas semanas voltei a Mimoso. De Cuiabá, passando por Santo Antonio de Leverger, 1 hora e 10 minutos. Estrada asfaltada, cenário pantaneiro, muitas curvas, quebra-molas inesperados, e como acontece nas estradas de MT, sem acostamento.
Abrasileirar o brasileiro
Não sei como definir o que senti ao ver a carcaça do Memorial naquela imensidão onde o menino Candido Mariano montava cavalo pantaneiro no pelo, descalço. Raiva, desgosto, decepção, tristeza, sentimentos, entrando num vazio existencial. Caí na letargia da inutilidade histórica.
Foi assim que homenagearam o mato-grossense que entrou no desconhecido para abrasileirar o brasileiro distante das civilizações; que percorreu o equivalente a duas voltas a Terra e está na galeria das Grandes Figuras da Humanidade?
Naquela beleza triste ri com as histórias de João Bosco, que viveu no exterior. E para a minha alegria acaba de ser eleito presidente da Associação dos Moradores de Mimoso. Conversei e aprendi com João, cara de Rondon. Com o sorridente Rômulo.
Enquanto Da. Ana, a mãe de Bosco, preparava o peixe, fiquei ali olhando a carcaça dinossaúrica do Memorial quando “vi” o menino Candido Mariano nadando na lagoa de Chacororé. Na estiagem, disputando corrida em cima de cavalo pantaneiro ate o morro Redondo.
Vi Rondon indo para Cuiabá e depois para o Rio de Janeiro, estudar. Destacar-se como cadete e nos estudos de engenharia. “Vi” o estafeta saindo de madrugada do quartel para levar o bilhete da tropa em apoio a Deodoro da Fonseca, à República.
Vi as homenagens dos Reis e Rainhas da Bélgica, Inglaterra, Suécia, Noruega, Espanha, ao Marechal Rondon. Revi o nome de meu conterrâneo, cidadão do mundo, gravado em ouro no Museu de História Natural de Nova York.
“Vi” candidatos atrás dele na bajulação dos sem história. Vi Thedoro Roosevelt homenageá-lo, inúmeras vezes, nos Estados Unidos e na Europa. Voltei a ver a dedicação, o carinho, o respeito, a reverencia, das funcionárias e especialistas do Museu para com o acervo de Rondon. Para os americanos, preciosidade e relíquia.
E de repente “acordei”, para ver e enxergar bem em frente dos meus olhos, o desrespeito, a imoralidade histórica de um povo que se deixa manipular por espertalhões da política e que sem coragem cívica vai perdendo dignidade, brios, fibra.
Como puderam fazer tal afronta a Rondon ali no lugar sagrado dos seus ancestrais bororo e terena? Dezessete anos de espera por 2,5 milhões de reais. Uma “merreca” pelos padrões éticos de Lula e seus guerreiros do povo.
Por que não terminaram o Memorial daquele que é proclamado Herói Nacional, a ser respeitado e dignificado por governador de MT, seja gaúcho, paranaense, nascido em qualquer estado do Brasil.
Bastava uma pequena verba da Copa do Mundo, (da qual roubaram tanto), e que nos deu uma derrota humilhante. Bastava decisão política, honradez, caráter, cultura geral. Bastava um pouco de respeito com a história do povo que os acolheu, que os fizeram começar uma nova vida, com prosperidade nunca, por eles, imaginada. Na imagem: O governador Silval Barbosa, o substituto de Blairo Maggi, assina mais um “término” das obras do Memorial Rondon
Já tive momentos de revolta solitária. Mas, é difícil exteriorizar no abandono da carcaça do Memorial a frustração e desesperança no rosto daquelas pessoas. Desacorsoadas de tanta “inauguração” e mentira. Ainda bem que Bosco não tinha mais vodka e uísque em seu restaurante de banheiros espantosamente limpos, cheirosos.
Poderia continuar com histórias rondonianas. Mas, termino este RH com sugestões a quem interessar possa:
O entorno do Memorial
Como será o Day After? Terminada a obra do Memorial espera-se fluxo de turistas, escolares, povo em geral. O Memorial, serviços, funcionários, salários, ficarão sob a responsabilidade do distrito, do município, do estado? E a politicagem? E os beliscadores da história de Rondon?
E a mata densa, bonita, santuário da fauna e flora pantaneiras? Os corixós, as lagoas de Chacororé, Tcha Mariana, Laranjeiras, outras menores, não podem sofrer nenhum tipo de agressão. E a especulação imobiliária? E a degradação do meio ambiente no entorno do Memorial?
Mimoseanos estão preocupados com o fim da tranqüilidade de sua vila. O Memorial de Rondon é, também, para criar alternativas para a juventude, o comércio, agricultura, pescaria, artesanato, mas, com bem estar geral. O Memorial não pode funcionar para degradar a vida tranqüila e saudável do povo de Rondon.
Mimoso: Território Federal ou Estadual.
O distrito de Mimoso em seu todo, deve ser protegido, preservado, no espírito e exemplo de Rondon: paz, harmonia, respeito às pessoas e à natureza. Proponho, pois, que o jurista governador Pedro Taques e a sua equipe de Homens da Lei criem uma figura-território com jurisdição própria, tipo Condado, Protetorado, Cantão, Cidade História.
Mimoso: Território de Rondon. Federal ou Estadual. Há que inovar. Criar. Há que mudar para melhorar. E Pedro Taques tem mostrado que é criador de saídas e atalhos, dentro da lei. Terminar o Memorial, sim. Mas, protegendo o seu entorno. Fazer de Mimoso um exemplo de preservação ambiental, social.
Quero estar na inauguração real do Memorial. E saboreando o pacu seco com banana-da-terra de D. Ana “ver” o menino Candido Mariano, alegre, cavalgando um quarto de milha pantaneiro pelas águas da lagoa de Chacorere.
E, se nesse dia- na terra do homem que levantou linhas telegráficas abrasileirando o brasileiro, no Mimoso do Pai das Comunicações- o sinal internet estiver ativo e contínuo, eu transmitirei ao mundo a minha satisfação e orgulho de ter sido parte dessa história.
Rondoniana
Faltou Rondon ao lado de “Thedoro Roosevelt Robin Williams” no filme Uma noite no Museu. Quando soube da filmagem fiz contatos para que a figura de Rondon estivesse no filme cuja história rola no Museu de História Natural de Nova York. Se a diplomacia brasileira de tantas conquistas e boa imagem no exterior, não estivesse submetida a delirios ideológicos bolivarianos contra os EEUU, poderíamos ter conseguido a presença de Rondon no filme Uma noite no Museu I e II. Marketing internacional melhor que o cinema com filme de sucesso, não há.
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