A brasileira Aimée carregava alegria como quem carrega um leque

As las 4 em punto de la noche cheguei ao capitulo 18, página 132, do livro A Bem Amada, Aimée de Heeren, a última dama do Brasil.

A sonolência acabou. “Voltei” a Moscou no inicio do inverno de 1965, na embaixada do Brasil, Rua Guertzena, em frente à Casa do Escritor.

E vi Assis Chateaubriand na cadeira de rodas, já desenganado pelos médicos soviéticos. E a brasileira Aimée, com quem conversei, durante o almoço oferecido pelo embaixador Henrique Rodrigues Valle.

E foi graças ao trabalho de Aimée, buscando o acervo da Expedição Langsdorff no Brasil, que fui bem sucedido com o trabalho anual Langsdorff em Mato Grosso/Brasil, no meu terceiro ano da Faculdade de Direito Internacional/Moscou.( Almoçando com o embaixador Henrique Rodrigues Valle)

Com o embaixador Henrique Rodrigues Valle, fomos a Leningrado. E tivemos acesso às caixas da arca do tesouro: gravuras, manuscritos, desenhos, mapas, milhares de espécies da nossa fauna e flora. Um achado.

Estava na Dom Drusba (Casa da Amizade) quando Aimée falou sobre a Expedição e o Museu do MASP, a grande criação de Assis Chateaubriand. Para a qual, Aimée, em Paris, foi super importante, ao “descobrir”, escolher, pinturas de renomados artistas, para o MASP.

Com o apoio decisivo da embaixada do Brasil em Moscou, o Itamaraty conseguiu junto aos soviéticos, enviar para o Brasil, parte significante da Exposição Langsdorff. Anos mais tarde, deixei Nova York, para ajudar a eleger colega dos tempos estudantis ao governo de Mato Grosso. Vencemos. E, como Secretário de Governo, a participação ativa de Sebastião Gomes de Carvalho, secretário de Cultura, e a colaboração do governo Sarney, mostramos parte importante da exposição Langsdorff em Cuiabá e Chapada dos Guimarães.

Aimée: beleza, educação, charme

O gaúcho Delmo Moreira escreveu o livro captando o entorno de Aimée: o presidente Getúlio Vargas. A Segunda Guerra Mundial. Paris, capital da moda. Os magnatas ingleses, irlandeses, holandeses, norte americanos.

As transformações sociais após guerra. E New York. Onde Aimée recebeu elogios do New York Times: “a última das grandes damas”. Da revista Time: “Aimée, a mulher mais bem vestida”. Foi para o Hall of Fame da revista Vanity Fair. Brilhou nos salões da elite novaiorquina.

Fatos e fotos da brasileira Aimée:

“O primeiro impacto era a incrível beleza. Tinha beleza para todas as idades: era bom ter o rosto dela com quinze, trinta ou noventa anos (pagina 169).

“Ela parecia aquele Brasil que dava certo, com pessoas e obras sendo admiradas pelo mundo” (pagina. 170)

“Era de fato encantadora, e mais que isso, simpática, elegante, cheia de espírito, em suma, uma presença que enfeitiçava qualquer homem. Foi cultuada em Paris”.

“O homem mais rico da Inglaterra ficava babando por ela”.

1.Os olhos vidrados de Orson Welles, gênio do Cinema, enfeitiçado pela brasileira Aimée. 2. Coco Chanel ouvia os palpites de Aimée. 3. Vestindo suas criações, a brasileira ajudava Christian Dior. 4. Aimée, promoveu a moda de Balenciaga. 5. Em Londres, na coroação da Rainha Elizabeth, Aimée com Assis, e seu filho Gilberto Chateaubriand.

Aimée: “Em Paris, Biarritz, Nova York…onde resido, voltada para a minha terra, orgulhosa dela e procurando sempre dar de mim mesma, para dela ser fiel e para sempre”.

Aimée morreu em agosto de 2006. “Foi cremada e enterrada, ao lado do marido, no Hill Crest Memorial Park, em Palm Beach. Na lápide, o nome do casal: Rodman 1910-1983. Aimée 1913-20026.

E aí brotou em mim, o impulso de pedir a permissão de Cristina, a filha de Aimée, que vive na Espanha, para acrescentar, na lápide: brasileira, ao nome de Aimée (Heeren, do marido).

As seis da manhã, terminei de ler A Bem Amada, e fiquei “viajando”. Revendo lugares e pessoas, citadas no livro, que eu as conheci em Moscou, Paris, New York, Rio, Brasília. (Jota Alves com o embaixador Sergio Correa da Costa, em NY)

E veio a pergunta, para mim mesmo: onde estava Aimée quando eu criei o Brazilian Day na espetacular New York? Por que eu não a procurei para homenageá-la ao lado do prefeito de New York. Ou no Waldorf Astoria, no Carnaval do Brasil, ao lado de celebridades do Cinema e da Música? Falha minha.

Aimée e Carmen Miranda, cada uma à sua maneira, no seu ambiente social, emolduraram a imagem da beleza, do charme e alegria, da mulher brasileira. E isso ficou assim por anos. Eu defendi, promovi, essa imagem. Até que a militância da feiura, e o ativismo do atraso cultural e social, dominassem universidades, a política, e os meios de comunicação.  E registro, Aimée e Carmen Miranda: nunca apelaram para a pornografia. Não usaram xingamentos, nem grosserias.

Sugiro o livro para os alunos do curso do Itamaraty. Pois, diplomata, para servir ao Brasil, deve conhecer a história de homens de negócios, da música, do futebol, da moda, da vida social.

O livro deve ser lido pelas mulheres que sonham, ser um dia, a primeira dama de seu município, de seu estado, de seu país.

E ao Delmo: ispaciba, merci, thank you, muchas gracias, obrigado, pelo livro bom de se ler.

Trilha sonora:

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