Fiquei impressionado com a canção “Eu nasci na União Soviética, eu nasci na URSS”. Oleg Gasmanov vem cantando esse hino das várias Rússia para multidões. Velhos comunistas e jovens capitalistas o aplaudem, alegres e orgulhosos.
A letra da música mostra bem por que a alma russa pairou sobre as invasões dos vikings, mongóis, tártaros, Ivan o Terrível, o Império dos Romanov, a revolução de Lênin, o domínio de Stálin, o sacrifício o sofrimento e a vitória na Segunda Guerra Mundial. “Eu nasci na União Soviética” canta o passado, o presente e o futuro do povo russo. E pede a união pela Rússia.
Este RH não é sobre a alma que vive após a morte do corpo.
A alma que lhes apresento está no corpo e no espírito de uma nação. Como dizem os americanos: “The Soul of a Nation”. E a “russkaia duchá (alma russa). Quais os insumos subjetivos e objetivos que formam a alma de um povo? Há unanimidade. Eles são: crenças, princípios, desejos, emoções, personalidade, caráter, moral, ética, dignidade, honra, sentimentos, intelecto, ideias…
Cadê a alma brasileira?
Um clássico que identifica a alma de um povo está na canção Alma Llanera, tipo Aquarela do Brasil do povo venezuelano. Mas, se há alma russa, American soul, alma espanhola, alma cigana, alma cubana, alma venezuelana, deve haver alma brasileira.
No exterior, eu acreditava estar bem próximo dela. Nos 35 anos lá fora o meu trabalho e promoções foram TODAS dedicadas ao meu país e à minha gente. Talvez por isso eu acreditasse tanto na alma brasileira que tudo fiz para mostra-la aos demais povos com O jornal The Brasilians, o Carnaval no Waldorf Astoria, o Brazilian Day.
Mas, e no Brasil, cadê a alma brasileira? Onde ela se esconde? Sou da geração educada por imagens grotescas, pejorativas, feias, degradantes, da alma brasileira: Macunaíma: herói sem caráter. Jeca Tatu: preguiçoso, pinguço.
E Nelson Rodrigues, o “Anjo Pornográfico” (Ruy Castro), famoso por suas crônicas em jornais, livros, e suas peças em teatros, filmes. Muitos citam Nelson Rodrigues como o maior conhecedor da alma brasileira. Ele revolucionou a passiva dramaturgia nacional. Mas, com seus problemas emocionais, pessoais, ele pincelou foi a alma da classe média carioca com escracho, pornografia, baixaria, sujeira.
Em cada família, uma tia puta, uma filha Bonitinha, mas, Ordinária, tio tarado, mãe adúltera, avô punheteiro. Ele captou leitores. Seus seguidores acreditam que a alma brasileira é depravada. Daí para o anarquismo, o escracho e a corrupção, implantados na política, no governante, na sociedade.
E anarquistas, “revolucionários”, a esquerda festiva em protesto permanente transformaram Nelson Rodrigues, defensor da ditadura militar, em ícone da vanguarda literária.
Dele, prefiro as Crônicas Futebolísticas. Nelas sim, ele chegou próximo de desenhar a alma brasileira ou o patriotismo de arquibancada. Putaria e corrupção, esquerda e direita, desfrutam juntas.
Citações de Aldo Fornazieri, Professor de Sociologia e Política:
“O Brasil tem uma unidade política e territorial, mas não tem alma, não tem caráter, não tem dignidade e não tem um povo. Somos uma soma de partes desconexas.
“A nossa alma, a alma brasileira, foi ganhando duas texturas: submissão e indiferença. Não temos valores, não temos vínculos societários, não temos costumes que amalgamam o nosso caráter e somos o povo, dentre todas as Américas, que tem o menor índice de confiabilidade interpessoal, como mostram várias pesquisas.
Quando percebemos os nossos enganos, nos indignamos mais com palavras jogadas ao vento do que com atitudes e lutas. Boa parte das nossas lutas não passam de piqueniques cívicos nas avenidas das grandes cidades.
Não somos capazes de perceber que não temos alma, não temos caráter, não temos moral e não temos coragem.
Aceitamos a destruição das nossas florestas e da nossa biodiversidade, o envenenamento das nossas águas e das nossas terras porque temos a mesma alma dominada pela cobiça de nos sentirmos bem quando estamos sentados à mesa dos Senhores e porque queremos alcançar o fruto sem plantar a árvore.
Se algum lampejo de consciência, de alma ou de caráter nacional existe, isto é coisa restrita à vida intelectual, não do povo. O povo não tem nenhuma referência significativa em nossa história, em algum herói brasileiro, em algum pai- undador, em alguma proclamação de independência ou república, em algum texto constitucional, em algum líder exemplar.
Somos governados pela submissão e pela indiferença.
Não somos capazes de olhar à nossa volta e de perceber as nossas tragédias. Nos condoemos com as tragédias do além-mar, mas não com as nossas. Não temos a dignidade dos sentimentos humanos da solidariedade, da piedade, da compaixão. Não somos capazes de nos indignar e não seremos capazes de gerar revoltas, insurreições, mesmo que pacíficas. Mesmo que pacíficas, mas com força suficiente para mudar os rumos do nosso país”.
Se não nos indignarmos e não gerarmos atitudes fortes, não teremos uma comunidade de destino, não teremos uma alma com um povo, não geraremos um futuro digno e a história nos verá como gerações de incapazes, de indiferentes e de pessoas que não se preocuparam em imprimir um conteúdo significativo na sua passagem pela vida na Terra”.
Plantar a semente que faz nascer a alma nacional
O momento não é de polemizar com o Professor Aldo Fornizieri, da FESPSP. Mas, não posso deixar de citar que o marxismo; a panfletagem das teses de Antonio Gramsci; as Marilena Chauí; o esquerdismo eleitoral; as teses do Foro de São Paulo; as FARC com status diplomático no governo Lula- Dilma; a enorme influência de Hugo Chávez sobre Lula viajando abraçado com Kadafi, Ahmedinejad, Evo Morales, ditadores africanos; Lula distanciando o Brasil dos centros de Saber, Conhecimento, Pesquisa, Tecnologia, Ciência, Modernidade; a “exumação dos restos mortais e a “ressurreição política da alma de Bolívar”; o delírio perigoso de um continente sem Exército nacional, sem fronteiras. E,
Lula deixando-se fotografar com colar de folhas da coca de onde se extrai o crack e a cocaína; Lula repetindo que nunca leu um livro e não precisa de diploma para governar o Brasil; penetraram fundo nas escolas e universidades, nos ambientes culturais, na mídia, descarnando o pouco de civismo que ainda tínhamos em nome da Revolução Bolivariana continental.
No imaginário mundial somos um povo com áurea, mas, sem alma.
Falar de Brasil, defender a sua imagem enlameada por políticos desonestos e governantes corruptos, sem dependência partidária, ideológica, é politicamente incorreto. Mostrar brasilidade é “xenofobia”. Toda a energia escolar está voltada para discussões e palestras de “especialistas” em bulling, maconha, sexo aos 11 anos, diversidade sexual, como enfrentar pais e professores, o empoderamento das mulheres X homens, aprofundando o Nós X Eles.
É no berço, nas creches, nas escolas, universidades, nas igrejas, nos templos, pelas TVs, Rádios, imprensa em geral, que se planta e se cultiva a semente da alma de uma nação. Nas primeiras aulas da universidade da Amizade, em Moscou, aprendemos o idioma conhecendo os mais consagrados nomes da poesia e da literatura russa.
Você sabe por que eu sou poeta?
Um dia, eu, do interior do Brasil, lá estava no palco do teatro universitário no papel do Inspetor, de Gogol. Na Faculdade Preparatória estudamos gramática e fonética russas, com professoras dedicadas, orgulhosas, em nos transmitir o melhor da “alma russa” na poesia de Puchkin, Lermantov, na literatura de Tchecov, Turguiniev, Dostoievski, Gorki.
As mulheres fizeram os poetas ter lugar destacado na história russa. Elas faziam parte de um pequeno e privilegiado número de pessoas que sabiam ler e escrever. As jovens liam com sofreguidão poesias e contos de amor. Conheceram Balzac e Stendhal graças à Rainha Catarina.
A poesia, e a disputa entre os grandes poetas, tem sido o canal por onde flui a “alma russa”. Serguei Esenin dirigindo-se a Maiakovski perguntava: “Você sabe por que eu sou poeta? E respondia: Porque eu tenho uma pátria”. Nas profundezas da alma russa os dois poetas se suicidaram. Descobri Boris Pasternak e conheci Evtuchenko.
A história russa é a narrativa do velho e do novo peleando, mas, que se juntam pela magia da alma russa.
Na maior e mais dolorida travessia de sua história a Rússia segura-se em suas raízes. Mesmo com a tecnologia do selfie seduzindo milhões de jovens o russo é o povo que mais lê poesia, história, literatura. Seguido pelo norte-americano.
Notável, portanto, o sucesso da canção “Eu nasci na União Soviética”, sem rancores, sem Nós X Eles. Canção da união, da amizade, da honra, da dignidade de um povo: Eta maiá straná ( Está é a minha Pátria). Valores que no Brasil deveriam estar acima de Marx, Lênin, Gramsci, Che Guevara, Fidel Castro, Hugo Chávez, Temer, Lula, Dilma, Renan Calheiros, Stédile, Marina, Fernando Henrique, Collor, Sarney, Faustão, Silvio Santos, Marcola…
Oleg Gasmanov canta a Rússia cinzenta, quieta, e também a Rússia alegre, festeira. A Rússia da frieza e a Rússia do calor humano. A Rússia dos intelectuais modernos e a Rússia das tradições. A Rússia revolucionaria que libertou milhões de servos e mandou o primeiro homem ao espaço sideral. A Rússia de antes, de hoje, a Rússia de sempre.
Sem a magia da poesia não se constrói a alma de um povo.
Valores, sentimentos, caráter, dignidade nacional, devem ser ensinados nas escolas e universidades, antes orgulhosamente chamadas de Alma Mater. Alegria, emoções brasileiras, devem estar nas nossas músicas, como um dia afloraram em Aquarela do Brasil, Canta Brasil, Brasil pandeiro, em muitos sambas-enredo.
Mesmo se implorarmos para a Rainha da Suécia ela não mandará políticos de seu país para governarem o Brasil. Nem magistrados para acalmarem a esquizofrenia jurídica. Jesus não encontraria aqui outro barro para fazer o homem e a mulher do Brasil. O barro que temos é esse. Eta maiá straná. Ninguém virá de fora limpar e salvar o Brasil. Ou refundamos ou afundamos.
Que alguém cante Eu nasci no Brasil com todas as suas belezas, derrotas, e conquistas. Que haja um Revival de temas nacionais nas canções, como o DVD Alma Brasileira, de Diogo Nogueira. Sem a magia da poesia não se constrói a alma de um povo. Quantas escolas fazem seus alunos descobrirem e conhecerem Castro Alves, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Coelho Neto, Casimiro de Abreu, José de Alencar, Carmen Miranda?
As TVs deveriam ir além das novelas, do patriotismo de arquibancada, e mostrar a alma de poeta de nossa gente. Noticiar não é informar não é formar não é educar. A alma brasileira existe, mas, está com vergonha de entrar no nosso corpo intoxicado, enfraquecido, doente, de tanta bandalheira, sujeira, corrupção, banditismo, e de covardia.
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