Biografia

 Trilha sonora: .

Há quantos anos o Brasil vive com censura prévia? 500, 200, 100, 70, 50, 30, 15, anos? A fragilidade institucional do país é gritante. Foram 13 anos para julgar os envolvidos no Mensalão. Esperamos décadas pela abolição da censura prévia.

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“Cala boca já morreu” disse Cármen Lucia, ministra do Supremo Tribunal Federal. Ela explicou: “pela biografia não se escreve apenas a vida de uma pessoa, mas o relato de um povo, os caminhos de uma sociedade”.

E foi exatamente isso que eu aprendi lendo Jean Christophe, de Romain Rolland, na tranquilidade de um sanatório (não de loucos, mas, de tuberculosos) às margens do rio Volga. Mestre da descrição RR influenciou gerações. Jean Christophe é biografia romanceada de Beethoven, seu tempo, músicas, amores. Um relato de época.

Biografia

Biografia: bios/vida + graphein/escrever é o gênero literário mais intrigante, estimulante, revelador, e mais difícil de ser escrito. Pois além dos dados pessoais, conquistas, preferências, esperam-se analise da personalidade e do caráter do biografado. Se este for artista, celebridade, crescerá o interesse sobre a vida amorosa e “casos” sexuais. Se há escândalo, melhor ainda.

images images2JILFKMUPor isso mesmo, não confundir entrevista, ensaio, reportagem, perfil, com biografia. Guerra e Paz, por exemplo, não é biografia escrita por Leon Tolstói. È um livro de época. E o Vento Levou idem. Antônio e Cleópatra, Romeu e Julieta, são obra prima de Shakespeare, marco da cultura ocidental. Mas, não biografias. São perfis romantizados.

Não basta escrever bem para ser biografo. Há que ter cultura sólida, local, universal. È fundamental conhecer o meio-ambiente no qual o biografado nasceu, cresceu, inventou, compôs, filmou. E paciência, disciplina, vontade férrea, para pesquisar, catalogar, consultar, entrevistar, pessoas que conheceram o biografado.

Biografia, para mim, é sagrada. A pessoa que copia, adultera, chupa, para escrever biografia chapa branca, é um impostor cultural. Para eles/as, escribas da corte, do partido, do “líder”, biógrafos oficiais, não há censura prévia, nem posterior.

Memórias e autobiografia

untitled.pngMemorias G KeenanNeste momento, estou lendo as Memórias de George Kennan, um dos artífices da Guerra Fria. O primeiro americano em um posto diplomático na URSS.  Jovem diplomata, ele estava em Berlim quando a Segunda Guerra começou. Estou “viajando” com ele pela velha e nova Moscou, cidade de minhas boas saudades. E muitas decepções. A que ser muito bom de taco, honesto, para escrever autobiografia. Na dúvida, o melhor é optar por Memórias.

“A liberdade de expressão não é garantia de verdade ou de justiça. Ela é uma garantia de democracia” (Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal).

Biografia, como gênero literário, educativo, cultural, opinativo, formador, no sentido amplo, só pode vicejar na democracia. Sem liberdade de expressão não há escritores, repórteres, jornalistas. O que há são membros do Partido, funcionários estatais, não importando se da direita ou da esquerda.

Doutor Jivago, de Boris Pasternak, romance histórico, foi proibido na URSS. No ocidente, é filme famoso. Arquipélago Gulak e tantos outros livros foram proibidos. Não havia liberdade de expressão na Rússia comunista, estrela guia da esquerda mundial. Não havia liberdade de expressão na ditadura militar brasileira, regime da direita.

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Apenas oito anos “mais velho” que o Brasil é nos Estados Unidos onde o gênero biografia alcança seu ápice de prestigio, divulgação, faturamento. Em Nova York, adquiri o hábito de ler o Suplemento Books do jornal The New York Times. Seu resumo de lançamentos, Best Sellers, biografias, é sensacional. Os pocket books com biografias de gente do cinema, esportes, musica, criaram leitores (compradores) assíduos. Fui um deles.

Sem biografia não existe Pátria Educadora

O governo federal vem mobilizando, conquistando, “fazendo cabeça”, se elegendo, se perpetuando, com slogans, frases soltas, “bonitinhas, mas ordinárias”. Coca Cola é isso aí, faz sentido, vende. Pátria Educadora (imitando a Venezuela) sem biografias, sem liberdade de expressão verdadeira, sem censura, de fato e de direito, é mais uma propaganda enganosa.

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Somos unânimes em repetir: o Brasil é um país sem memória. Claro que sim. O professor/a não tem o hábito de ler biografia. O aluno/a não lê biografia, muito mais agora com o domínio do Google e de outras fontes “históricas”.

Já temos milhões de Google e de What’s App dependentes. Vidrados no celular e seus jogos, crianças, estudantes, não estão lendo. Os que vão a à escola pouco aprendem. Leitura e redação a níveis baixos. Em 20/50 anos quem escreverá biografias? Quem fará as necessárias reportagens investigativas? Quem escreverá a último poema verde e amarelo?

A TV, rara e excepcionalmente, produz seriado de figuras históricas biografadas. Como reter memória nacional sem conhecer os que batalharam para criar as fronteiras do país? Sem divulgar a obra dos formadores da nação?

Com o governo dominado por gente que não lê e espertalhões que não precisam de diploma universitário para administrar, gerenciar, faturar, “se nunca antes na história desse país houve gente como a gente”, ensinar o que?

“Antes de mim não houve ninguém que prestasse”.

Se, é preciso destruir toda a obra construída pelo Demônio (Diabo religioso ou classista); se, antes de mim não houve ninguém que prestasse e ninguém melhor do que eu, para que serve Biografia?

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Foi assim na Rússia soviética. Foi assim na Revolução Cultural da China onde o culto à personalidade atingiu seu nível máximo. È assim na Coréia do Norte. Na Venezuela. Está sendo assim no Estado Islâmico. Há no Brasil, “intelectuais”, Mobilizados, que gostariam de fazer fogueira com os livros de Monteiro Lobato, o nosso maior escritor infantil. Defensor da siderurgia e do petróleo, preso e exilado pela ditadura Vargas.

Já tivemos biógrafos e biografados da maior importância para a história da cultura nacional. Nas velhas bibliotecas estão os clássicos da biografia brasileira. Nas novas, o destaque é para reportagens, entrevistas, perfis, fofocas, das “Surfistinha” aclamadas pela preferência e ousadia sexual.

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Já deu IBOPE saber se Caetano Veloso é ou não é gay? Por que Roberto Carlos, homem público de imenso sucesso, luta para proibir biografia não autorizada? Ou seja, com censura prévia.

Na banda cada vez mais larga das frivolidades, superficialidades, quanto mais “segredo” revelado, quanto mais pimenta sexual e escracho, mais sucesso pode obter o livro, a biografia.

Dilma, Academia Brasileira de Letras, Petrobras.

Com o fim da censura prévia o país deve iniciar o soerguimento do gênero literário que ele mais necessita. E não será pelo ideologicamente confuso ministério da Cultura que conseguiremos isso. Cada governador, prefeito, deve fazer a sua parte. Devem incentivar biógrafos regionais. Premiar monografias de alunos. A imprensa local, regional, deve dar espaço às biografias.

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A Academia Brasileira de Letras é o canal para grande e necessária Mobilização pró-biografia. E a presidenta Dilma pode sim sair em busca do tempo perdido criando condições e autorizando Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobras, publicar e distribuir biografias de brasileiros ilustres. Toda escola-mesmo sem biblioteca- deve ter e usar uma coleção de biografias nacionais.

Para ter Memória é preciso conhecer o que se deve memorizar. A presidenta que gosta de novelas deve “pedir” aos Marinhos brothers que coloquem na grade televisiva da TV Globo- a mais influente educadora do país- seriados, novelas, de biografados.

Demorou, mas aconteceu. Censura prévia, nunca mais. (I hope). Doravante, ações judiciais somente depois do livro publicado. Segue o jogo democrático, tendo de um lado, liberdade de expressão e informação, e do outro lado, o direito à liberdade individual e privacidade.

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1. A trilha sonora deste RH é My Way, por Frank Sinatra. Morto há dezessete anos ele continua dando o que falar para biografos. Foram várias as biografias sobre ele. His Way, de KittyKelley, mesmo não autorizada pela familia, em circulação, e vendendo bem. 2. Mata Hari, usava seus dotes sexuais para espionar, para a França e para Alemanha. Seu deu mal. Vem ai biografias com novas revelações. 3. O brasileiro, principalmente, os Mobilizados, devem aprender a conviver com as nuances democráticas. A toda poderosa Rosemary ocupou cargo público, detem segredos presidenciais, da República. È figura pública. Quem escrever a biografia dela, agora sem censura prévia, fará bem à liberdade de expressão e de informação.

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