Posso afirmar que Nova York é a capital mundial da liberdade de expressão. Do não à censura de livros, filmes, biografias, artes em geral. Afirmo isso por que nela vivi. Não como turista de muitas viagens. Não como imigrante dando duro, mas, ausente do cotidiano social, cultural. Circulei. Conheci. Penetrei nos seus bastidores. Agreguei à cidade. Contribui para a sua magia e alegria*.
Este RH é o segundo sobre Censura. Motivado pelo comportamento decepcionante de “lutadores” contra a censura na ditadura militar. Mas, no outono da vida, ao saírem do armário ideológico de baixa consciência política, cruzaram a linha da decência. E o caráter falso brilhante apareceu.
Netos, filhos, afilhados, do totalitarismo de Esquerda e de Direita. Velhos de idade e ideias entrarão na história não pelo que escreveram, compuseram, cantaram. Mas, pelo que declaram, defendem: a censura de biografia, de livros. Avalizam a impunidade. E por tabela, tipos de censura: sexual, religiosa…
Para completar este RH, por favor, leia Censura I sobre o livro Doutor Jivago de Boris Pasternak. Conto o que vivi na poderosa URSS. Onde a biografia chapa branca era a regra. Neste, vou limitar-me ao paparazzo Ron Galella perseguindo, infernizando, a vida da primeira dama dos EE. UU. A querida e sofrida Jacqueline Kennedy.
Celebridade: È a plus-valia da fama. No Brasil não temos celebridades. Há famosos. Badalados. Paparicados. Para ser celebridade é preciso magia. Brilho excepcional. Destacar-se no que faz para si e para outros. Celebridade não é só de TV, cinema, música.
Pela dezena de livros e filmes biográficos muitos foram elevados ao pedestal. Cleópatra. Jesus. Maomé. Beethoven. Maria Antonieta. Napoleão. Bismarck. Oscar Wilde. Freud. Al Capone. Hitler. Stálin. Einstein. Picasso. Dali. Chanel. Greta Garbo. Carmen Miranda. Dior. Evita. Grace Kelly. Princesa Diane. Che Guevara. Michael Jackson…
A indústria do cinema precisava promover seu produto, artistas, diretores. Bons em propaganda os americanos criaram “astros e estrelas” de Hollywood. O glamour de loiras e morenas. Galãs. Mocinhos. Bandidos. Heróis. Mas, nem todo “astro ou estrela” é celebridade
Paparazzo*: Fotógrafos corriam atrás de Charlie Chaplin, Jean Gabin, Brigite Bardot, Alain Delon, Ali Khan, Porfírio Rubirosa, Marylin Monroe. No filme La Dolce Vita Federico Fellini transformou o fotógrafo de revistas de cinema, curiosidades, fofocas, em profissional famoso.
Marcelo Mastroianni e Anita Ekberg. O dedo de Mick Jagger. Depois de brigar e fugir Woody Allen fez a paz com paparazzi europeus. Recentemente, o ator Alec Baldwin partiu pra cima de fotógrafo.
E assim nasceu o paparazzo com máquinas penduradas no pescoço, na cintura. Jornais pagavam bem por fotos “inéditas” de famosos. Ter uma foto em Vanity Fair, Vogue, Life, Time, Le Monde, The New York Times, The Guardian, era carimbo de sucesso.
Carnaval no Waldorf Astoria:
No Grand Ball Room do mais famoso hotel do mundo acontecia homenagem a presidentes. Jantar de magnatas. Celebrações. Na Nova York em crise, de conflitos raciais, havia dois eventos de destaque nas colunas sociais. No Waldorf Astoria: o Réveillon com a orquestra de Guy Lombardi e o Baile de Debutantes.
Graças ao cinema e a TV Carmen Miranda estava no imaginário norte-americano. O Brasil acabara de conquistar a Copa do Mundo no México. A bossa-nova passava por um revival depois do show no Carnegie Hall. O latin beat surgia forte na música, nas discotecas.
Nessa atmosfera de ritmos, etnias culturais, com muita determinação, mas, com concorrência desleal (adivinha de quem?). De brasileiros. Emplaquei o Brazilian Carnival não como um baile para brasileiros saudosos. Aliás, poucos em Nova York.
Mas, como o terceiro happening anual do celebrado hotel. Anos depois com o fim do Baile das Debutantes. A Festa de Ano Novo e o Brazilian Carnival foram os eventos mais famosos. E pela organização, originalidade, sucesso, mais um hapenning na agenda da sensacional Nova York. Por quinze anos consecutivos. E teria continuado por mais quinze se vírus ideológico não me fizesse voltar ao Brasil.
1. O Baile de Debutantes. 2. O Reveillon com Guy Lombardi. O Brazilian Carnival. Os gringos nunca tinham visto baile com mulheres bonitas, pernas de fora, dançando em cima de mesas. 3. Adriana Krambeck, Miss Michigan/USA e Beth Carvalho no Baile da Democracia. O Brazilian Carnival era temático. Todo ano dedicado à alguma causa ou data nacional: Baile do Café. Da Amazônia….
Ron Galella: Paparazzo dorme e acorda pensando na foto original de famoso. Em Celebrity Nova York já estava à frente de Paris e Roma que reinaram no pós-guerra e na década de sessenta. O paparazzo Ron Galella, procurava eventos, “coisas”, pessoas, para Aquela foto.
1. Com um soco Marlon Brando- O Poderoso Chefão- tirou cinco dentes e quebrou o maxilar de Galella que o processou em U$ 40 mil dólares. Ganhou. ” Apenas para pagar a cirurgia e o implante. O dinheiro não importa. A questão é não censurar o nosso direito profissional de fotografar celebridades, pessoas públicas”. De gozação ou com medo do repique Galella se aproximava de Marlon Brando com capacete de metal. 2. Um de seus álbuns. 3. Amigos de Jackie distribuíram cartaz com a frase: quebre a câmera dele. 4. Galella depois dos 80, continua clicando, clicando.
Ele foi à Rua 46. Ao Brazilian Promotion Center para credenciamento. O convidei para o Carnaval. Assim como a diplomata e a doença mudaram a minha vida em Moscou. Em New York conheci e aprendi com figuras fantásticas. Fomos ao restaurante onde o mafioso Joe Gallo foi assassinado. Galella levou-me a um coquetel onde estava Al Pacino, astro do Poderoso Chefão. Muitos momentos Bem Nova York. O mais elaborado e mais perigoso- pelo menos para mim- foi ter-lhe permitido fotografar Jacqueline Keneddy de meu apartamento.
A partir da obsessão de ser o paparazzo exclusivo de Jacqueline Keneddy Ron Galella viveu, comeu, dormiu, caminhou , correu, teve máquinas quebradas. Foi processado. (várias vezes).
1/2. Jackie O, como passou a ser chamada ao casar-se com o feioso, baixinho, magnata Aristóteles Onassis, era a mulher mais fotografada do planeta. Na companhia de Onassis o serviço de segurança era total. Mas, após o divórcio Jacqueline ficou vulnerável. Note a cara amarrada de Onassis. 3. Galella na cola de Jackie. 4. E o Rei dos Paparazzi com a foto que ele mais gosta.
Delicada por formação. Viúva do presidente John Keneddy. Ela sentiu-se mais frágil ainda com as críticas e fofocas em torno do casamento e da separação com Onassis. Nesse vácuo Galella entrou e passou a persegui-la. Dia e noite. Na cidade das celebridades ao ficar próximo e fotografar uma celebridade ele também passou a ser celebridade os paparazzi do mundo. Para a mídia que vive de celebridades. E eu também gostei de tê-lo conhecido. Em Nova York é assim: ou fica IN. Ou fica OUT.
Le Cirque: reinou como restaurante de celebridades. Do outro lado da rua em frente ao meu apartamento na Rua 65 esquina com a Park Avenue. Da minha janela-terceiro andar-via as limo chegarem com Ronald Reagan, Gromiko, Kissinger, Rockefellers, Keneddys, VIP internacionais, “astros e estrelas”.
Galella recebia inside info sobre os passos e a agenda de Jackie. Comi a isca. Entrei na dele. “Coisa rápida, tranquila, estarei fotografando de longe”. E foi assim que desde as 3 da tarde fez da sala do meu apê sua central de operação. Várias câmeras, binóculos, dois “canhões” com tripé, caixas de filme.
1. O Le Cirque em frente ao “meu prédio” na Rua 65 2. Galella na butuca. Era segundos entre sair da limo e entrar no restaurante. 3. Para felicidade de Galella Jackie parou. Conversou com amigas.
Jacqueline Keneddy, esperada para jantar no Le Cirque ás 20 horas. Ás 19 começou o movimento lá embaixo. Agentes do Serviço Secreto. Policiais da cidade. Celebridades criam aglomerações. Congestionam o trânsito. Galella eufórico. Na excitação do momento comecei a ficar intranquilo.
Ela chegou. Era segundos entre sair da limusine e entrar no restaurante. Mas, para felicidade de Galella e desgraça minha Jackie parou. Ficou conversando na calçada com amigas. O apê no escuro. E Galella clicando, clicando, clicando. Sem flash. Ele contava com a claridade das lâmpadas da Rua e dos holofotes do restaurante. Mas, no orgasmo ninguém se contém. Ele enfiou a cabeça pela janela, deitando-se, esticou mais ainda os canhões. Foi visto.
Ele podia fotografar. Sem censura. Sem perseguição. A liberdade de exercer a sua profissão estava garantida por lei. Mas, ele não havia contado tudo. Respondia a processo limitando a 100 metros sua distância da Ex-Primeira Dama dos Estados Unidos. Da minha janela à calçada do Le Cirque ela havia atravessado a linha entre o publico e o privado. Da lei ao crime.
Batidas na porta. Câmeras abertas. Filmes confiscados. Sem, contudo, nenhum sopapo em Galella. Papparazo famoso. Ele fazia o seu trabalho: fotografar celebridades na cidade das celebridades. Avisaram eu poderia ser processado como coadjuvante.
Sobrou para mim. Bronca da Síndica- que já tinha rixa comigo- pelas festas, sobe e desce de mulheres. Reunião com multa da Administração da towhouse, ao lado da casa onde viveu o presidente Franklin Roosevelt. Mesmo proprietário eu estava sujeito a ações de despejo. Conselho: Em Nova York evite comprar imóvel em Cooperativa. Imagem: Galella, tremendo gozador, com a trena medindo a distância entre ele e Jacqueline Keneddy Onassis.
Resumo da história: Se fosse da índole e do caráter de Jacqueline Keneddy; se ela tivesse sido educada com o “você sabe com quem está falando?” em mostrar “a carteirinha do poder”; com amizades e conexões que tinha; podia mandar arrebentar ou “sumir” com Ron Galella. Poderosos onde a impunidade é regra fazem isso.
Assim como o amarelo faz parte de nossa bandeira, a censura, perseguição, fazem parte de qualquer regime totalitário. Da Esquerda, Direita, Religioso. Fui testemunha disso em Moscou. Vivi a liberdade de expressão. De noticiar. Sou testemunha da não censura de biografias em Nova York.
Biografias fazem parte da Inteligência. Comportamento. Cultura. Escrever, contar, expor, a vida de pessoa pública, ensina e ajuda o cidadão a crescer e ter sucesso com decência. Biografia educa. É fundamental para o povo. O regime totalitário não incentiva biografia. Pois o indivíduo não pode ser mais importante que o Partido único, o Estado, o Chefe, o Mito, o Divino.
Sou testemunha de como a primeira dama da maior potencia do planeta respeitou o direito de imprensa petreamente cravado na Constituição de seu país. Sabia-se celebridade, pessoa “pública”.
Portanto, podia ser fotografada, biografada. Sou testemunha da covardia, do patrulhamento ideológico, da censura, que “famosos intocáveis” e globais fazem no Brasil. O Cara pode ser famoso e safado. 171. Badalado e canalha. Hitler famoso, levou o mundo à guerra.
Mas, afinal, para que biografia, memória nacional, quando o presidente do país orgulha-se de nunca ter lido um livro e não precisar de diploma universitário para governar? Para que biografias se 75% dos brasileiros nunca foram a uma biblioteca e a ministra responsável pela Cultura embalada por hormônios divinos conclama que Lula é Deus!!!!? Nesse ambiente de democracia totalitária “famosos” suplentes de celebridades, velhos de idade e ideias, sentem-se à vontade para encher o saco com censura de biografia! E conseguem. Com o silêncio de pilantras e maria-vai-com-as-outras que mandam no país.
Bruxas e Cavaleiros do Apocalipse Cultural atacam a liberdade de expressão.
São contra o direito do povo saber o que fazem e fizeram políticos, governantes, artistas, padres, pastores. O que deveria fazer a ministra da Cultura? Entrar na discussão. Promover campanha pela publicação de biografias. O Brasil é carente nesse gênero literário que se extingue pela censura, pela covardia de Juízes, pela manipulação midiática.
Temos leis que protegem o biografado de infâmia, difamação, do crossing the line. A diferença entre nós e os americanos está no cumprimento e no comprimento da lei. Nos EE.UU celebridades são detidas, algemadas, presas, por delitos no trânsito, sonegação de imposto, embriaguez, etc. A desgraça nacional- entre outras- é a lei do mais famoso. Mais “carismático”. É o não cumprimento da lei. É a impunidade.
E onde a impunidade lidera a liberdade de expressão-pilar do Estado de Direito- está comprometida. Corruptos adoram a ousadia dos “famosos” em proibir bio-grafia. Vida + escrita. De pessoa que deve sua fama, sua riqueza, ao público. Aí olhamos para os “famosos”. Olhamos para os corruptos. E ficamos sem saber quem é mais canalha.
Trilha sonora: Carey Mulligan singing New York, New York in Shame [FULL SCENE]
——————————————————————————-*O Dia do Brasil, criado em 1985, numa explosão de liberdade de expressão e de vitória contra a censura em nosso país, não é somente o maior festival brasileiro no mundo. É o maior evento no centro de Nova York. *PAPARAZZO se refere ao mosquito que fica em volta atazanando a pessoa. Sinônimo do fotógrafo cri-cri que persegue celebridade para tirar fotos, de preferência, indiscretas.
Para melhor leitura Zoom 125.
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