O cuiabano Roberto Campos

 

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Ele nasceu quando Lênin escrevia as Teses de Abril para a vitória da Revolução de Outubro. O centenário do cuiabano Roberto de Oliveira Campos, do signo de Aries, como eu, será em 17 de abril do ano que vem. Com este RH espero despertar interesse para a comemoração em Cuiabá, Mato Grosso. Brasil.

Bobby Fields

Líder estudantil, o combati na criação da ACES, da UME, nos congressos da UBES -UNE. O apelido grudou nele forever. Industrialização e eletrificação, acelerada, a construção de Brasília, drenavam recursos. Roberto Campos formatou o Plano de Estabilização Econômica. O país precisava de empréstimos. A pedido do presidente Juscelino RC costurou acordo com o FMI.

brasilia construMe da um dinheiro ai JK, político manhoso, pressionado no Congresso pelas “forças” de esquerda e para tranquilizar as mobilizações da UNE, tirou o corpo fora, e saiu-se com a “moratória soberana”. Sobrou para Roberto Campos. Eu estava nas calçadas do Palácio do Catete no protesto pelo não pagamento da dívida externa. Fora FMI! 1. JK na famosa foto com americanos: Me dá um dinheiro aí!

Gritava para Juscelino demitir o entreguista “Bobby Fields” (cérebro do vitorioso Plano de Metas de JK). O combati da Secretária Geral da UESB na aliança estudantes + candangos da NOVACAP + Frente Parlamentar Nacionalista. O combati da Secretária Geral da Mocidade Trabalhista do Brasil. Frequentando o Palácio do Planalto, o Congresso, liderei mobilizados, simpatizantes do PCB, da Juventude Católica, contra Roberto Campos, o Entreguista número 1 do país.

“Desde a mais tenra infância sofremos infecções culturais que, incrustadas no subconsciente, provocam distorções de comportamento”. (Roberto Campos).

Com 13, 14 anos, eu lia e distribuía a Voz Operária e o jornal Novos Rumos. Estava à frente da primeira greve estudantil de Cuiabá (por meia entrada, quebramos a nossa fonte de cultura, o Cine Teatro Cuiabá, e por meia passagem, depredamos o nosso meio de transporte, 4 “jardineiras” do velho Alexandre).

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Cresci e me formei convicto de que Roberto Campos era o Satanás imperialista. Nunca parei para checar se tudo sobre ele era verdade ou mentira. Pouco sabia da Guerra Fria. E quais as razões para tê-lo como o Diabo que entregaria o nosso petróleo, a floresta amazônica com seus minerais, aos Estados Unidos e Inglaterra. Eu lia muito. Via, mas não enxergava. Na manada, jovem stalinista, eu não pensava, pensavam por mim. Como muitos fazem hoje: Eu não penso, Lula pensa por mim.Viva a Revolução, Lula tem razão!

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O nosso embaixador em Moscou era o mato-grossense Henrique Rodrigues Valle. Com ele passei a conhecer qualidades admiráveis do conterrâneo Roberto Campos: leitor e conhecedor dos clássicos. Fluente em latim, espanhol, francês, italiano, inglês. Filósofo, professor, teólogo, diplomata, Doutor em economia, político, escritor. Oráculo do seu tempo. Profeta do Hoje e do Amanhã de seu país, ele estava na reunião da ONU em Breton Woods na qual foi criado o FMI, BIRD, para o equilíbrio das economias do pós-guerra.

1. Nas partidas de sinuca com o embaixador Henrique Rodrigues Valle, jantares, nas visitas a lugares proibidos ao russo comum, conheci pessoas, detalhes, das relações mundiais, mais que na faculdade de Direito Internacional. Ele de Corumbá, eu, de Cuiabá, em Moscou, dois mato-grossenses matando saudades. 2. O embaixador, segundo da direita, com estudantes da universidade Patrice Lumumba.

O espaço não é suficiente para enumerar a obra do diplomata, economista, e político Roberto Campos. Mas, neste nosso Brasil desmemoriado (pelo fundamentalismo religioso, partidário, ideológico, cultural, pelo domínio midiático) devenos repassar às novas gerações a obra dos que, como RC, construíram o Moderno Estado Brasileiro.

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Principalmente, aos que, como eu, gritavam- gritam o Petróleo é Nosso! Fora Bobby Fields! Sem saber que ele estava na elaboração do projeto que criou a Petrobras. Assinado por Getúlio Vargas,  regulamentado pela Lei 2004, para a qual, nos seus vinte anos, dediquei edição especial no jornal The Brasilians, fundado por mim em Nova York.

Estudantes, principalmente, os de Direito, futuros Homens da Lei. Moças e rapazes influenciados por “pedófilos” ideológicos responsáveis pelo Atraso precisam saber que Roberto Campos foi pilar da modernização do Estado Brasileiro no topo da hierarquia diplomática, política, administrativa, com Getúlio Vargas, JK, Castello Branco, Geisel, no Senado e na Câmara Federal.

Foi dele o embrião do Minha Casa Minha Vida e dos projetos de habitação popular com a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação); o proletariado dominado por pelegos (antes) e pelos oligarcas sindicais (de agora) precisam saber que saiu da cabeça do economista Roberto Campos o projeto do FGTS, garantia do trabalhador, na qual o governo mete a mão para cobrir gastos e perdas de outros setores;

Estatuto da Terra. Banco Central. Código Tributário. Correção monetária (as ORTNs). A indexação de preços. O Cruzeiro Novo. O Salário -Educação, berço do Bolsa Família e de outros programas sociais. O país desconhecia as quatro dimensões da política macroeconômica: fiscal, monetária, cambial, salarial. RC modernizou o sistema tributário: IR, IPI, ICM.

“O mundo não será salvo pelos caridosos, mas, pelos eficientes”.

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Na crise do petróleo de 1973, 76, 80, 83, quando faltava petróleo no mundo, o diplomata RC conseguiu articular para que não faltasse petróleo no Brasil. No gógó- como se dizia- negociou empréstimos de US$ 60 bilhões para comprar petróleo.

É bom que os herdeiros da velha esquerda saibam que foi RC no comando do BNDE o mentor da SUDENE. E foi ele quem levou Celso Furtado, mais tarde o queridinho das esquerdas universitárias, para trabalhar o projeto.

Saibam que Roberto Campos entendia que no Brasil era preciso a intervenção estatal sem dogma exagero, ligada ao setor privado. E sem preconceito contra o capital estrangeiro investidor. Ele dizia: “subdesenvolvimento é falta de caráter”. O governo Dilma- Lula esfarelou-se. A “ culpa é do imperialismo inglês. Do capitalismo americano”.

Roberto Campos definiu a cultura anti empresarial. “A culpa da alta dos preços não é do empresário, vem dos erros do governo”. Mas, a intelligentsia dominando universidades, setores da administração pública e da mídia, continua bombardeando a iniciativa privada. Ensinou Lula a pregar o “nós contra eles”, em dissimulada luta de classes.

“Só haverá liberdade política com liberdade econômica”

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Roberto Campos sempre combateu o monopólio na Petrobras – Petrossauro. “Estatismo é empobrecedor”. “Petróleo é apenas hidrocarboneto e não ideologia”. Os que brigam pelo monopólio estatal na Petrobras defendem covil de privilégios. Ninho de oligarquias e corrupção. Muita corrupção. Como está documentado, investigado, julgado. A presidenta Dilma vive a repetir que não fez nada de errado. Mas, o maior mal feito dela foi presidir o Conselho de Administração da Petrobras. Ela ajudou a esfarelar a empresa orgulho do país. Comercialmente um colossal desastre.

“Estive certo quando todos tiveram contra mim. Tive o prazer de me provar correto em meu próprio tempo”.

Roberto Campos foi caluniado, difamado, pela direita, esquerda, oportunistas de plantão. Fez tremer os economistas da Unicamp e irritar os “marxistas “da USP, ao ensinar: “Só haverá liberdade política com liberdade econômica”.

Nas críticas à Lei de Informática (monopólio estatal) do governo Figueiredo ele avisou: “Vai condenar o Brasil em informática”. Na mosca. O Brasil depende de harwdares da China, Coréia, Índia, Paquistão. Lula, ao deslumbrar-se com o socialismo do Século 21 do bravateiro Hugo Chávez, atrelado a Kadafi ( “meu líder, meu irmão” ), Mugabe, Evo Morales, Noriega, Fernando Lugo, Kirchner, distanciou o Brasil dos centros de Conhecimento, Ciência, Tecnologia, Pesquisa, Modernidade. Lula e Dilma aprofundam o Atraso do Brasil.

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Ai a roda do destino girou. Ele em Londres, eu, em Nova York. Nunca encontrei-me com Roberto Campos. Nunca nos falamos. Quando fui a Inglaterra ele não estava. Quando lançamos o caderno Londres, no jornal The Brasilians, ele deixava a importante missão no Reino Unido.

Fui alvo de duas tentações eleitorais.

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Júlio Campos, na delegação de deputados federais Observadores junto a ONU, foi conhecer o conterrâneo que havia hasteado a primeira bandeira brasileira na Rua 46, centro de Nova York.

Determinado, já foi dizendo: “Jota Alves, muito prazer em conhece-lo pessoalmente. Já sei do seu trabalho aqui em prol do Brasil. Serei governador de Mato Grosso e quero ter na minha campanha dois cuiabanos famosos em nossa terra. Você será candidato a deputado federal e o Roberto Campos ao senado. Elegerei vocês dois”.

Ou teria que deixar a querida Rua 46 para acompanhar Leonel Brizola na sua volta triunfante. Mesmo divergindo dele como naquela repetitiva milonga das “perdas internacionais” e do seu estilo Caudilho- Chefe, com Brizola sentia-me “ideologicamente à vontade”. Quem sabe, teria sido eleito deputado federal com Juruna, Aguinaldo Timóteo, e outros que Brizola elegeu.

Roberto Campos para senador. Jota Alves para deputado federal

Já o convite de Júlio Campos falava ao coração, ao orgulho da volta. Mas, teria eu, coragem de estar no mesmo palanque com aquele a quem chamei de Bobby Fields? Ao qual difamei como o entreguista número UM do Brasil? Com que cara ficaria diante de meus colegas da esquerda, e dos que admiravam a minha trajetória?

edson b1800c99b16c37d44591baac323a2c08 Campos na campanha

1. Edson Miranda, colega de infância a quem tentei, em vão, cooptar para a esquerda estudantil, dos pioneiros da UFMT, pupilo do ministro Simonsen, um dos Ghost Writer do governador Júlio Campos, incentivava: “ Seus colegas vermelhos ficaram verdes, se dão bem. Afinal, você não volta do comunismo. Volta do sucesso em Nova York, meca do capitalismo. Venha. Júlio Campos será eleito governador, o Roberto será senador e você federal”. 2. Roberto Campos em campanha para o senado.

As toxinas ideológicas penetram fundo. Melhora-se, mas, há recaídas pesadas. No governo fiz contatos indiretos com o senador por MT. Pairava no ar o patrulhamento, a proibição.

Rua 46

Não foram as experiências no comunismo e no capitalismo. Não foi o fim da URSS. Não foi a vida em Nova York. São as  frustrações e as decepções no comando do Estado brasileiro, pelo qual Roberto Campos tanto trabalhou para ser Moderno e Eficiente, que fazem-me redescobri-lo.

Com precisão mediúnica ele psicografou o desastre na Petrobras. A empresa fechou 2015 com prejuízo de 35 bilhões. Com dívidas de 100 bilhões. 45, 5 bilhões de reais em perda de arrecadação ate 2018. Valor, e imagem no exterior, em seu nível mais baixo. Seus detratores, com o rabo entre as pernas, ou com as mesmas justificativas dos anos 50-60, vivem como zumbis nesse clima de esquizofrenia moral que asfixia o país. O Profeta RC mostrou, ensinou.

Marisa Tupinambv° ArquivoExibirNos atalhos da vida, sem querer, “cruzei” com Roberto Campos. Um dia, em São Paulo, eis- me no apartamento de sua amada, a loira e vibrante Marisa Tupinambá. Publiquei resenha do livro que ela escrevia. Roberto Campos saiu do hospital para o Congresso. Em cadeiras de rodas votou pelo impeachment do presidente Fernando Collor.

Meio século arquitetando a economia brasileira. Com sua cultura abrangente, domínio de idiomas, é  ícone da diplomacia brasileira. A sua imensa obra está Acima de ideologia, partido, religião. É um brasileiro que merece, como muitos outros, ser conhecido e estudado por gerações. Sua história, trabalho, seu pensamento, estão em Lanterna na Popa, livro de 1.416 páginas com 8 centímetros de lombada. O cuiabano, cidadão do mundo, Roberto Campos, morreu no dia 9 de outubro de 2001.

Trilha sonora:

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