Sou da geração Cuba Sí, Ianque No. Na Guerra Fria não fui observador nem outsider. Insider, eu estava em Moscou quando estourou a Crise dos Mísseis. Um ano depois, bebendo rum e fumando charuto com cubanos, a notícia do assassinato de John Kennedy. Quem o matou: a máfia italiana, cubanos, as mãos do solitário lunático Lee Oswald?
Estive 4 vezes com Fidel Castro. A primeira, na embaixada cubana em Moscou, graças a namorada cubana, filha de diplomata. A segunda, na Missão de Cuba junto as Nações Unidas, Nova York. A terceira e quarta, em Havana. E, a primeira vez que o vi, de perto, foi em sua histórica visita à UNE, Praia do Flamengo. Rio. ( 4. O último à esquerda, organizei a viagem do governador de Mato Grosso à Cuba).
Leio Vilma Gryzinski, Mundialista da revista Veja. Ela, como milhares no Brasil e mundo afora, repete chavões e dogmas, tipo: “O dia em que Fidel queria destruir o mundo”. Descreve momentos da Crise dos Mísseis, em outubro de 1962, mas, não menciona a invasão de Cuba em abril de 1961.
Deixo emoções da minha trajetória de líder estudantil até concluir a Faculdade de Direito Internacional na universidade Patrice Lumumba, ícone da Guerra Fria e da abertura política da União Soviética. Vou direto ao uso que os KK- Kruschev e Kennedy- fizeram de Cuba. (1. Discursando pro Viet Nam. 3. Com a namorada cubana. 4. Orador da turma de formandos).
O Repórter estava lá dentro da História
Convido vocês para entrar comigo nesta história real. Sem sectarismo, sem fundamentalismo, sem esquerdismo, doença infantil do comunismo. Delete dogmas e chavões. Eisenhower, comandante das tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial, era o presidente dos EEUU quando Fidel Castro entrou triunfante em Havana. O ditador cubano Fulgêncio Batista conseguiu fugir com malas de dinheiro, ouro, joias. (1. O ditador Batista).
Sabedor da enorme influência que a também vitoriosa União Soviética exercia sobre o leste europeu libertado por soldados russos, e o exemplo multiplicador dos barbudos de Sierra Maestra, em 1959, o presidente Eisenhower autorizou Ação encoberta contra o regime Castro para conter o comunismo na América Latina.
A invasão de Cuba
Se perderá nos caminhos do sensacionalismo midiático de gente mal informada, de pesquisadores e formadores de opinião maria-vai-com-as outras, quem da minha, de gerações posteriores, e atuais, escrever, comentar, espalhar, sobre a Crise dos Mísseis, a ditadura de Fidel Castro, as filas, o fechamento do regime, sem conhecer, ou omitir, a invasão de Cuba em abril de 1961.
Exilados políticos, inimigos da revolução, herdeiros e associados de empresas norte-americanas nacionalizadas e confiscadas, exerceram enorme influência no governo dos irmãos Kennedy, católicos praticantes, anticomunistas ferrenhos. Com aval de Robert Kennedy, ministro da Justiça, a CIA treinou soldados na Guatemala e Panamá. Aviões camuflados com as cores de Cuba despejavam panfletos conclamando para o golpe contra Fidel. Acreditavam que o povo: “se levantará contra os barbudos” 1. 400 homens chegaram à Praia Girón (Baia dos Porcos).
A invasão foi decisão ridícula. Acharam que seria um passeio.
“Se era para invadir que invadissem para valer”. Acharam que seria um passeio. Em 3 dias os invasores foram derrotados. 176 morreram. E Fidel vitorioso cresceu no imaginário de cubanos, latinos, de jovens do mundo todo.
El Comandante no pique de sua energia e carisma burilou, melhorou, aprofundou, o seu discurso patriótico. O Partido Comunista cubano era minúsculo.
A estrela guia de Cuba não foi o marxismo-leninismo.
Com a invasão de Cuba, fracassada, e a chegada dos russos, os comunistas cubanos se fortaleceram. Mas, foi Fidel discursando 4, 5, 6 horas, quem despertou e solidificou: patriotismo, honra, coragem, dignidade. Afinal, eles haviam vencido a maior potência capitalista do planeta.
Os dissidentes cubanos e americanos da ultra direita culparam John Kennedy pelo fracasso da operação. “O presidente não autorizou a Força aérea bombardear Cuba”.
A crise dos mísseis: os 14 dias que amedrontaram o mundo.
Depois da vitória rápida e fulminante, Cuba passou a se preparar para a próxima invasão vinda dos States. Quando? A qualquer hora. E foi então, que o mundo conheceu as grandes consignas de Fidel: Pátria ou Morte, Venceremos! Tudo pela Revolução! Cuba sí, Yankee no. Hasta la vitoria siempre! Na América Latina, a juventude fervilhava de apoio à Cuba. Na Europa, intelectuais, artistas, apoiavam Fidel. Guantanamera, antiga música sertaneja cubana, emocionava o mundo.
Em 1952, Cuba rompeu relações com a União Soviética. Em 1960, Nikita Kruschev e Fidel Castro reataram e fortaleceram as relações. Milhares de soviéticos chegaram para ajudar Cuba. Os russos que adocicavam com açúcar de beterraba conheceram o açúcar da cana cubana. A paranoia da próxima invasão estava no ar. Fidel pediu a Kruschev artilharia antiaérea, misseis de longo alcance. Em outubro de 1962, Nikita venceu a controvérsia interna no Politburô. Mandou navios e submarinos com armamentos. Nos quais, “ogivas nucleares”.
Até hoje ninguém comprovou se as ogivas estavam mesmo com artefatos nucleares. Acredita-se num blefe de Kruschev auxiliado por Suslov, ideólogo do Partido e do governo. Sabe-se que Leonid Breznev foi contra o envio de mísseis e começou a tramar a queda de Kruschev.
A CIA humilhada, enviava aviões espiões, os famosos U2, para fotografar o território cubano. Um deles, foi derrubado. A juventude pro Fidel vibrou mundo afora. A coisa ficou “russa”. Mais U2 avistaram navios com carga alta: “eram foguetes, ogivas nucleares”. Kennedy cercou Cuba com navios de guerra.
Kruschev mostrava seu “gênio” de estrategista e relações públicas. Yuri Gagárin, o primeiro cosmonauta, foi mais um tapa no orgulho americano. Na sequencia, Valentina, a primeira mulher astronauta. Kennedy chamou Kruschev para conversar. Se acertaram. A URSS desmancharia os silos “nucleares” e retirava seus mísseis de longo alcance de Cuba. Os Estados Unidos desativariam a base militar na Turquia.
A URSS retirou navios, mísseis, soldados, sem consultar Fidel Castro que ficou p. da vida. A partir daí a radicalização cresceu com Che Guevara pendendo ora para a China de Mao, ora pregando focos guerrilheiros mundo afora. Ele começou no Congo e morreu na Bolívia.
Internamente, havia grupos armados praticando atentados a cargueiros, portos, aeroportos. Fidel Castro aprofundou a defesa da Revolução. Os Estados Unidos decretaram o bloqueio comercial apoiado por muitos países. A economia, a vida cubana, ficaram dependentes da ajuda da URSS, que já começava a dar sinais de enfraquecimento. (1. Capa equivocada ou tendenciosa da Veja com Kennedy no centro, no alto. 2. Capa correta de revista com Fidel Castro, no meio de sua ilha, sendo usado pelos interesses da URSS e dos Estados Unidos.
Guerra atômica? Fidel Castro queria destruir o mundo? Se houvesse ogivas nucleares os russos fieis ao PCUS, ao seu povo sofrido pelas Primeira e Segunda Guerra Mundial, eram os únicos que tinham acesso aos códigos, senhas, chaves. E Kennedy, é claro, que perdia na corrida ao espaço, mas, ganhava em poderio econômico, jamais iniciaria uma guerra nuclear.
Com o bloqueio americano, com o fim da URSS, não foi, e não tem sido fácil para o povo cubano.
É razoável concluir que se os EEUU não tivessem apoiado aquela alucinada invasão de Cuba não haveria a crise dos mísseis. E, possivelmente, não haveria razão “ideológica” para o bloqueio econômico imposto pelos States. E, quem sabe, o presidente Kennedy não teria sido assassinado.
O que sei, pois estava lá dentro da História, é que os KK usaram Cuba! Qual história absolverá ou punirá Fidel Castro?
O que mais me interessa agora, depois de tanta ideologia e doutrinação, é que brasileiros e cubanos se aproximem. Como um dia o Rio de Janeiro foi, hoje, Havana é a capital mundial do ritmo, som, cor, dança, musicalidade, bom humor, hospitalidade. Fidel Castro é história!
Trilha sonora:
*Jota Alves formou-se em Direito Internacional, Moscou. Em Nova York fundou o jornal The Brasilians e criou o Brazilian Day. Em Mato Grosso exerceu funções de Secretário de Governo. Edita www.oreporternahistoria.com.br e www.odiadobrasil.com Ver JotanymtAlves Facebook.
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