O navio. Os cafezais. As primeiras aulas de Português.
No dia 18 de junho de 1908, no porto de Santos, o navio da Esperança- Kasato Maru, desembarcou os primeiros imigrantes japoneses: 781 de 165 famílias. São 115 anos de uma amizade com múltiplos benefícios para o Brasil, e para o dia a dia do nosso povo.
Com o fim da escravidão, faltou mão de obra nos cafezais. Italianos foram os primeiros imigrantes na colheita de café. Depois de estabelecidos, os japoneses que trouxeram cultura milenar do cultivo de alimentos caseiros, se instalaram nas chácaras e áreas verdes ao redor da cidade de São Paulo que iniciava mais um impulso de crescimento.
O pepino, a cebolinha, a couve, a berinjela
Desde criança, eu ouvia a palavra Cinturão Verde. E quando no governo de Mato Grosso fui conhecer a Cooperativa de Cotia. Visitei granjas de hortaliças e legumes.
Trouxe o embaixador do Japão a Cuiabá. Tínhamos tudo para estabelecer o Cinturão Verde com tecnologia japonesa, como foi feito em Mato Grosso do Sul, com a capital Campo Grande, bem servida de hortaliças, legumes, frutas, da colônia japonesa, a terceira maior no Brasil.
“Eu não sou coelho pra comer folha verde”.
Não conhecíamos hortaliças. Poucos plantavam cebolinha para o pirão do peixe. O cardápio cuiabano: mandioca, cará, inhame, maxixe, e peixe, muito peixe bom.
A “batata inglesa”
Os da minha geração devem se lembrar de ir ao armazém comprar “batata inglesa”. Tão famosa quanto a maçã argentina, embrulhada em papel de seda perfumado.
A batata sempre foi o carboidrato dos ingleses/irlandeses. Mas, a famosa “batata inglesa” vinha mesmo era da Holanda. E o Largo da Batata, em São Paulo, (como a Praça da Mandioca em Cuiabá) era onde japoneses vendiam batata, legumes, hortaliças, tomate, ovos de granja…
Parabenizo o deputado estadual Carlos Avalone, em fazer a Assembleia Legislativa de Mato Grosso homenagear o Japão, seus imigrantes e descendentes. As homenagens com agradecimentos devem se repetir, ano após ano. Pois há vácuo de conhecimento, de informação. (No governo de MT organizei a maior celebração/homenagem aos primeiros imigrantes japoneses e a seus descendentes).
Mato Grosso é beneficiário da Campanha de Expansão da Soja e do magnifico trabalho do engenheiro agrônomo Shiro Miyasaka, autor do livro A soja no Brasil.
O estado, o agronegócio, devem incrementar relações com o Japão e com várias organizações japonesas. Criar intercâmbios. Criar bolsa de estudo.
Li que em Cuiabá a colônia japonesa se resume em 5 mil pessoas. Pouco, muito pouco, pelos relevantes serviços prestados a Mato Grosso. O agronegócio deve muito, muito, aos japoneses.
“Cerrado nem dado, nem herdado”.
Ninguém queria terra no cerrado. Queriam nas matas. A virada cultural aconteceu com o Programa de Desenvolvimento do Cerrado- PRODECER criando pioneiros como Olacyr de Moraes, André e Blairo Maggi- Reis da soja.
O inimaginável aconteceu: em 20 anos, Mato Grosso lidera a produção de soja, milho, algodão.
Desfrutei da amizade de Olacyr de Moraes, com visitas às suas fazendas, aos canteiros de experimentos.Fui seu hospede em São Paulo. Estávamos juntos na inauguração da ponte rodoferroviária, em Jales, SP. Sim, tem dedo meu nesse salto de qualidade e quantidade da soja em MT. Mas, isso é outra história.
Distanciamento ideologicamente estúpido
Vejo com muita preocupação esse distanciamento que governantes federais provocam nas relações Brasil/Japão, com motivações ideológicas que trazem prejuízos ao nosso país. Decisões por impulso. Por militância e ativismo.
Presidentes do Brasil não gostam de historiadores, pesquisadores, analistas, para assessora-los em assuntos com outros países, com nossos parceiros comerciais. Assuntos que vão além dos negócios. É fundamental estudar, conhecer e analisar o comportamento moral, os interesses de nossos parceiros. Uma coisa é compra e venda de produtos. Outra coisa é a entrada de imigrantes no país com seus costumes, cultura, comportamento, que podem ser nocivos.
Presidentes ficam dependentes da opinião de ministro das Relações Exteriores, de embaixador. Tampouco as Forças Armadas estudam, investigam, analisam, a “guerra tecnológica e biológica” em andamento. O Brasil está desprotegido.
O Japão é a terceira economia do mundo.
Mas, atualmente o Japão é o nosso 18*parceiro comercial com apenas 1,6% de comércio do Brasil. Em 2021, foram US$ 5,5 bilhões de exportações e US$ 5,1 bilhões de importações. Pouco, muito pouco, pelo histórico de nossas relações e pela importância do Japão no desenvolvimento do Brasil.
Tenho que dizer em alto e bom som: Obrigado Japão!. Arigato imigrantes japoneses por ensinar o brasileiro a se alimentar melhor, muito melhor. E ser líder em produção e exportação de grãos.
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